GERAL

O dia em que Pablo Escobar sequestrou Amarillo Slim

Folclórico jogador conseguiu escapar da morte


 

07/01/2016 15:00
O dia em que Pablo Escobar sequestrou Amarillo Slim/CardPlayer.com.br


Através da série Narcos, da Netflix, o público brasileiro está conhecendo a vida do narcotraficante Pablo Escobar. Apelidado de “Don Pablito”, o colombiano chefiou por anos o Cartel de Medelín, organização criminosa que fez dele um dos homens mais ricos do mundo.

Na Colômbia para participar da inauguração de um cassino, o lendário jogador Amarillo Slim acabou indo parar em um helicóptero de Pablo Escobar. No livro Amarillo Slim – O Grande Malandro, da Raise Editora, ele contou como conseguiu escapar da morte. Confira:

No começo dos anos noventa, quando eu estava trabalhando para o Caesars, Lynn Simon, meu antigo chefe da Del Webb Corporation, comprou o Casino de Caribe em Cartagena, Colômbia. Lynn era um bom amigo e um homem de negócios muito capaz. Ele tinha descoberto quatro das maiores fraudes que já ocorreram na indústria dos jogos, e embora isso não fizesse dele muito popular com os trapaceiros, isso fez dele muito popular entre os donos de cassinos.

Lynn decidiu me usar num evento promocional de seu cassino — para dizer a verdade, era para ajudar a atrair alguns dos grandes lordes das drogas para vir a Cartagena jogar no Casino de Caribe. Eu não estou dizendo que era a coisa certa a se fazer, estar envolvido com todos aqueles bandidos de lá, mas Lynn tinha me perguntado se eu podia ajudar, e como eu sabia que esses caras tinham os bolsos cheios, me comprometi. Para ser honesto, eu fiquei um pouco surpreso com a quantidade bandidos que me conheciam. Eu não sei ao certo como, e não quero saber — pois se existe uma coisa nessa vida que eu não suporto, são drogas — mas alguns desses caras estavam realmente excitados por estarem jogando com o velho Slim.

Eu não tinha intenção de descer até lá e levar um tiro, então a primeira coisa que eu fiz quando cheguei ao cassino foi chamar todos os mandachuvas para declarar Cartagena a nossa Suíça. A trégua foi dada. Todos líderes e chefes de cada distrito concordaram em não sequestrar ninguém, não matar ninguém e não fazer nenhuma confusão durante dez dias — tempo suficiente para eu botar meu traseiro magro em um avião de volta para a pacífica Amarillo.

Parecia que a trégua iria durar, pois todo mundo estava agindo como se fosse obedecer à lei. Então, por volta do terceiro dia, eu fui até a varanda do cassino, e um dos bandidos tinha uma pequena pistola e atirou em uma das mulheres que estavam a menos de um metro de mim. Cara, eu ainda me lembro da última vez que o coração dela bateu antes de o sangue espirrar de sua cabeça e sujar meu terno e minhas botas. E eu pensei: Que droga! A confusão vai se instalar, pois há cerca de quarenta desses bandidos por aqui e cada um deles tem uma metralhadora.

Eu não sei por que aquele homem atirou na mulher — eu acho que eles tiveram algum tipo de discussão — mas certamente não iria perguntar a ele. Eu descobri depois que ela era a namorada de Johava, um dos lordes das drogas do cartel Cali. A discussão foi com um lorde das drogas do cartel Medellín, que era liderado por um dos homens mais temidos do mundo, Pablo Escobar. Com a tensão entre esses dois grupos, eu devia saber que alguma coisa ruim iria acontecer, e deveria ter pegado o próximo voo para o Texas.

Mas eu fiquei por lá — talvez porque parte de mim gosta do perigo, ou mais provavelmente porque eu nunca tinha visto homens com menos inteligência e mais dinheiro do que esses lordes das drogas. Era como quando Jimmy Chagra estava esperando o julgamento em Vegas. Eu iria ficar lá durante mais sete dias, então eu fiz o que eu faço em situações ruins — tiro o maior proveito disso, jogo poker e fico bem amigo dos chefes. Aquela velha expressão, “Fique próximo dos seus amigos e ainda mais próximo dos seus inimigos”, estava na minha mente. Eu fui em frente e joguei poker com alguns deles, e não me senti ameaçado por eles de início, pois eu estava sendo honesto. Eles me acharam OK, e eu com certeza não fiz nada para dissuadi-los dessa noção, entende?

Então cerca de três noites depois do tiroteio, quando eu realmente comecei a achar que tudo ficaria bem, eu voltei a minha suíte do Cartagena Hilton. O Casino de Caribe não tinha hotel, e o Hilton era um local lindo próximo da praia. Eu tinha segurança comigo, mas alguém atacou meu segurança com força e rapidez, o que foi péssimo para mim. De repente, roubaram tudo que eu tinha — inclusive meus dois anéis premiados — contra minha vontade e me jogaram nos fundos de um helicóptero.

Meu primeiro pensamento foi que esses caras fariam o que sempre fazem, que era sobrevoar a floresta e jogar pobres coitados como eu por lá. Eu achei que era melhor aprender a voar depressa, senão seria meu fim. Sabe, na Colômbia ou você é usuário ou traficante ou informante ou agente da DEA (Drug Enforcement Agency, Agência de Combate às Drogas dos EUA). Não há meio-termo, e como eu não era um usuário ou traficante, naturalmente eles deviam achar que eu trabalhava para as autoridades federais.

Não demorou muito para que eu percebesse que tinha sido pego pelo chefe de todos os chefes, Pablo Escobar. Até onde eu sabia, ele era o mais notório de todos, e metia medo em todo mundo que o via. Eu acho que em mim também, embora eu odeie admitir, uma vez que um cara como eu não devia ter medo de ninguém.

Pablo Escobar não era nada mais do que um ladrão de carros e gangsterzinho em Medellín, quando rapidamente juntou o máximo de cocaína que pôde e vendeu ainda mais depressa, tornando-se um bilionário. Se você já viu o filme Profissão de Risco (“Blow”, EUA, 2001), sabe que George Jung — o personagem interpretado por Johnny Depp — foi o maior traficante dos Estados Unidos, e ele conseguiu muitos de seus bens de Escobar. Em sua busca por riqueza e poder político, Escobar chegou até mesmo a concorrer a um cargo político e conseguir uma cadeira no Congresso. Ele conseguiu lealdade através de caridade, construiu duzentas casas para os pobres, patrocinou times de futebol e pagou comissões a artistas para pintarem murais. Durante mais de uma década, ele e seu exército de matadores de Medellín estiveram em guerra com os governos da Colômbia e dos Estados Unidos. Isto é, eu não estava em boas mãos, não importava quão caridoso o Sr. Escobar aparentasse ser.

Para minha sorte todos esses caras tinham rádios e gostavam de transmitir notícias a respeito de sua última vítima. Esses cartéis de drogas tinham uma rede de comunicação muito boa, e os homens de confiança de Escobar começaram a me descrever pelo rádio. Isso devia ser algum tipo de milagre, porque um colombiano que eu conhecia muito bem de Las Vegas percebeu que a pessoa que estavam descrevendo era eu. Esse cara era um dos chefes de Barranquilla, uma cidade portuária da costa, que gostava de apostar no Caesars e que eu tinha conhecido em uma de suas muitas viagens para Las Vegas. Ele pegou seu rádio e disse que eu era Amarillo Slim e que eu era um funcionário do Caesars Palace. Então um dos homens de Escobar disse: “Descreva-o”.

Ele me descreveu muito bem, mas esses caras não acreditavam. Naquele momento eu só pensava em como seria a melhor maneira de aterrissar quando eu atingisse o solo. Então esse chefe disse: “Ele tem um mapa do Texas no dedo? ”

Eles olharam para minha mão e disseram: “Não, ele não tem”.

Bem, eu simplesmente sabia que era meu fim. Mas então eu consegui explicar a esse cara que ele tinha meu anel do Texas em seu poder depois que me roubou, e quando ele o encontrou em seu bolso, finalmente começou a acreditar que era eu. Então esse chefe disse a eles que eu era OK, que eu não era um informante, que eu não era um traficante e que eu não queria comprar drogas nem vender drogas nem delatar ninguém. Eu estava lá apenas para apostar, como convidado do Casino de Caribe.

Eles finalmente cederam, mas em vez de me levarem de volta ao cassino, eles decidiram me levar para a casa de ninguém menos do que o homem em pessoa, Pablo Escobar. “Casa” não seria a melhor maneira de descrever — “mansão” seria mais adequado — e o que eu mais lembro é que ele tinha doze limusines Mercedes na sua garagem, que teriam feito ótimas casas para 99% das pessoas pobres daquele país. Depois que Pablo me mostrou a residência, ele decidiu que queria me dar uma pequena turnê, então me levou para um passeio no mesmo helicóptero em que eu tinha sido sequestrado.

Lá de cima eu só pensava em uma chance de empurrar Escobar daquele maldito helicóptero. Se houvesse alguma maneira de eu mesmo pilotar aquela coisa, eu teria tentado isso. Enquanto nós estávamos voando, Escobar mostrou uma grande catedral, uma igreja muito bonita que ele tinha construído. Escobar falava inglês, e ele me disse: “Vê aquela capela, Slim? Foi a que eu construí para as pessoas pobres”.

Eles então abaixaram o helicóptero para olhar bem de perto um zoológico que Escobar tinha construído para — como ele chamava — as pessoas. Ele disse que custava $8.000 por dia para manter aquele zoológico. Eu queria dizer, “Difícil”, mas mostrei mais discrição do que nunca na minha vida e decidi apenas conversar com ele.

“Señor Escobar”, eu disse, “você sabe que foi muito criticado pela imprensa norte-americana quando matou aquele editor do jornal de Bogotá”. Então ele falou algo sobre aquele cara ter sido morto no exato local em que o procurador geral, e se ofereceu para ir me mostrar. Ele falou sobre ter matado esses homens como se não fosse nada — e aqui estava eu em um helicóptero com ele!

Ele falava sem parar sobre tudo que ele tinha feito para os pobres de lá, e eu só podia ouvir e tentar manter minha boca fechada. Se existe uma coisa que eu não suporto é hipocrisia, mas eu tentei ser agradecido pelo fato de nada de ruim ter me acontecido, embora eu estivesse sangrando por dentro ao pensar em ter que divertir esse traficante de drogas e assassino a sangue frio.

Então ele simplesmente continuou falando e falando dessas caridades — eu acho que Siggy falaria algo sobre consciência culpada — e de como ele era um cara bom. Eu queria dizer: “Não mije nos meus sapatos e diga que está chovendo! Você é um lorde das drogas, Sr. Escobar, pura e simplesmente, e você não apenas destruiu seu próprio país, como quase destruiu o meu”.

Então, do nada, ele me disse: “Eu realmente gosto dos seus botões”. Eu usava moedas de ouro de um dólar fora de circulação em minhas camisas como botões. Então eu disse a mim mesmo: Eis um homem que tem tudo, e ele gosta dos meus botões. Até ali eu achava que Escobar tinha me dito quase tudo que havia para ser dito sobre suas atividades de caridade, e ele foi inclusive gentil o suficiente para me deixar onde tinha me apanhado. Eu até mesmo recebi todos os meus pertences de volta, com exceção de meu anel do Texas — o que não foi uma perda pequena.

Eu disse a Lynn que tinha sido um grande prazer e peguei o primeiro avião de volta para os Estados Unidos. Bem, não demorou muito para que Lynn fosse informado por algumas pessoas para quem não se deve dizer não que seria melhor que ele tirasse seu negócio da Colômbia. Então eu acho que foi por agradecimento a Pablo por não ter me matado — ou talvez porque eu não soubesse quando poderia encontrá-lo novamente — que eu o enviei um conjunto corresponde dos meus botões. Peças de um dólar de ouro fora de circulação são caras, mas eu dei importância ao conselho de ficar mais próximo de meus inimigos e paguei por elas sem pensar duas vezes.

Cerca de seis ou sete semanas mais tarde, eu estava novamente nos Estados Unidos deitado na minha suíte no Caesars Palace, quando o telefone tocou. Eu atendi, e o cara do outro lado da linha falou: “Sleem, aqui é fulano”. Eu reconheci o sotaque colombiano dele (era um dos homens de Escobar), então ele disse: “Eu tenho uma coisa para você”.

“Eu tenho uma coisa para você também”, eu disse. “Você está nos Estados Unidos agora!”

“Não, não, não!” ele disse. “Pablo lhe mandou uma coisa. São uns botões. Eu vou levá-los até seu quarto”.

“Ah, não vai. Não se atreva a subir até aqui”.

Nós combinamos de nos encontrarmos no cassino, embaixo do grande navio que fica perto da discoteca de lá. Eu liguei para a gerência, e eles me arranjaram uns guardas com roupas civis, e estávamos preparados para qualquer surpresa. Eu creio que se aquele homem tivesse espirrado, ele teria se dado mal. Mas, no fim das contas, tudo correu bem, e Escobar realmente tinha mandado confeccionarem um conjunto de botões para mim. Todos aqueles lordes das drogas de lá têm suas próprias minas de esmeraldas, e Escobar tinha me enviado um conjunto de esmeraldas brutas, não cortadas e não polidas de cerca de três ou quatro quilates cada. Você imaginaria que um cara como ele enviaria botões de esmeraldas feitos

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