EDIÇÃO 23 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Nada Como Um Dia Após o Outro

Ficha no pano em Monte Carlo


Thiago Decano

Fala, Galera! Imagino que todos devam estar de olhos atentos para a WSOP, que certamente será tema de muitos artigos nas próximas edições. O número de brasileiros é cada vez maior e, consequentemente, a chance de um novo bracelete também aumenta. Vamos torcer!

Como eu havia dito no artigo anterior, este mês vou escrever um pouco sobre Monte Carlo e os torneios que joguei por lá, começando pelo Main Event do EPT. Tive um Dia-1A fantástico: joguei praticamente o dia inteiro na mesa com os ótimos “The Void” (famoso por ter ganhado o Evento Principal do WCOOP e depois ter sido desqualificado por ter utilizado duas contas nesse torneio), Stefan Mattsson (que quebrou meu AA com QQ na mesa final do WPT de Barcelona, quando estávamos em três) e Luca Pagano (do Team Pro do PokerStars, e que estava muito iluminado neste dia... – risos).

Construi um ótimo stack, apesar de estar numa posição muito ruim na mesa, já que The Void adorava me dar resteal e estava bem à minha esquerda. E o destino quis que, na última mão do dia, o “facão” passasse: eu estava no small blind e só completei com J9. The Void aumenta 3x e eu pago, já que ele faria esta jogada com quaisquer duas cartas para fazer crescer o pote com posição. O flop é mágico e traz KQT. Eu tenho por volta de $85.000 fichas, e meu oponente $74.000. Dou check, e ele aposta $5.000. Volto reraise para $14.000. Ele pensa bastante e aumenta para $33.000. Neste momento, estou perdendo apenas para AJ, mão com a qual ele possivelmente aumentaria pré-flop. Mas o range dele estava enorme, como trincas, dois pares e inúmeros draws, então resolvi ir all-in, pois sabia que ele não largaria mais, e que a chance de eu estar na frente era enorme. Ele paga com TT, nenhuma carta dobra, e eu fico com o triplo da média: $159.000 fichas.

O Dia 2 começou bem, e logo atingi a marca de $200.000 fichas. Porém, fui transferido para uma mesa bem casca-grossa: Jason Mercier, Phil Laak, Dario Minieri e outros prós. Mantive meu stack entre $150.000 e $200.000. Porém, em uma mão com Jason, em que ele deu apenas call pré-flop no meu raise com AA, acabei jogando mal e fui all-in com meu top pair no flop. O fato de ele estar com apenas 23 big blinds, ter apenas pago pré-flop e ser um excelente jogador, escancarava um AA ou KK. Ele aumentaria ou largaria com todas as outras mãos no meu ponto de vista. Paciência! O jogo é No-Limit – um erro lhe custa o torneio, e foi o que aconteceu.

Fiquei bem chateado e botei na cabeça que ia recuperar o prejuízo ainda em Monte Carlo. E não deu outra: cravamos o Second Chance! A estrutura era meio turbo e não dava margem a erros. Apesar de estar grande e acima da média durante quase o dia todo, cheguei na bolha bem short. O que foi péssimo, pois, além de eu não ter stack para alavancar fichas naquele momento, o chip leader aumentou 100% das mãos e comandou a mesa, jogando muito bem. Eu não tinha mais espaço para resteal e me limitava a all-ins quando surgia um gap.

Quando todos entraram na premiação, o jogo voltou ao normal e eu terminei o primeiro dia com $40.000 fichas, após dobrar num coin-flip. A média era de $53.000. No dia seguinte, tudo mudou: após alguns roubos de blind, consegui dobrar apenas pagando um raise pré-flop com AA, somente call na continuation-bet do adversário e uma ótima value bet no river. Fomos para $110.000 fichas e passamos a comandar a mesa. Após algumas mãos, crescemos para $300.000 fichas até que veio a situação dos sonhos. Na bolha da mesa final, o button aumenta para $22.000 com blinds em 4.000/8000. O small blind vai all-in de $190.000 fichas com KQ. E eu vejo duas azeitonas no big blind! Pronto!!! Estávamos na mesa final com $580.000 fichas, sendo que o segundo colocado tinha $220.000.

Por ironia do destino, esse segundo em fichas era justamente o ex-chip leader que citei na bolha, e o único que realmente jogava bem. Tenho o costume de sempre olhar minhas cartas antes e vi um belo AK suited, justamente no big blind do malandro. Fingi que não tinha visto as cartas e que estava meio aéreo. Olhei rapidamente e abri raise para $21.000. Não deu outra, ele anuncia reraise para $55.000 e fica com $150.000 para trás. Eu vou all-in, ele abre um sorriso e larga as cartas.

A pressão da grana era grande, já que a maioria dos jogadores da mesa final não eram profissionais – e eu me aproveitei disso. Após alguns raises e reraises, surgiu a única mão em que eu tenho dúvidas se joguei bem ou não. Após umas três voltas, eu anuncio raise com JTo sobre o blind do mesmo jogador acima. Ele já tinha crescido um pouco o stack e fez o mesmo move para $55.000, ficando com uns $200.000 para trás. Eu penso bastante no metagame. Sei que ele era bom e agressivo o bastante para dar o mesmo resteal sem nada. Cogitei bastante ir all-in com meu JT, pois imaginei que mesmo se tomasse call não estaria dominado. Mas hesitei e preferi uma situação melhor.

O poker nos traz diversas surpresas, e de repente o short stack que não jogou uma mão sequer na mesa final e foi dilacerado pelos blinds e antes, praticamente quintuplicou numa mão com KK contra AQ, 99 e JJ. Na mão seguinte, ele eliminou o ótimo jogador que eu comentei anteriormente, e agora estávamos em três. Eu tinha $700.000, o segundo 400.000, e o terceiro 200.000. Em virtude da postura passiva dos dois que eu observei na final table, resolvi abrir raise em 100% das mãos. Mesmo tendo que largar em alguns reraises, cresci, e após eliminar o terceiro colocado com 99 x AJ, fui para o heads-up com $900.000 contra $400.000.

Mantive a mesma postura de aumentar 100% das vezes com posição, e em uma delas paguei um reraise all-in com 66. Meu oponente apresenta 88 e dobra para $550.000. Continuei o ritmo de raises, mas vi minha situação complicada após uma bad beat que tomei num flop com 9-7-2. Dei check-raise all-in com J7 e fui pago por 76. Um 6 no turn me deixou com $400.000 fichas, numa má situação.

Tive que aumentar o ritmo, e em algumas mãos preferi só dar call com posição, pois ele tendia a dar donk bets blefando (aquela aposta que você faz sendo o primeiro a falar). A estratégia deu certo, e consegui reverter a vantagem. O maior problema estava no fato de os blinds estarem gigantes em relação aos stacks, e qualquer erro ser fatal. Após assumir a liderança novamente, a sorte sorriu para mim: num flop 9-6-5, fomos all-in. Eu estava dominado com 9-3, e meu oponente segurava 9-J. Um 3 bateu no river, e finalmente veio a vitória – muito festejada, por sinal! Nada como um dia após o outro: uma cravada dessas faz você esquecer o erro do torneio anterior.

É isso aí, pessoal. No próximo mês, como não poderia deixar de ser, trarei novidades sobre Las Vegas e a WSOP! Grande abraço!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×