EDIÇÃO 23 » FIQUE POR DENTRO

Combate mano a mano: David Cairns Empurra no River Com um Check-Raise Blefando


Craig Tapscott e David Cairns

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Craig Tapscott: Eu gosto do formato desse evento FTOPS. Por favor, explique para os leitores da CardPlayer.

David “muckducks” Cairns: Era um shootout six-max de quatro vezes. Na prática, isso significa que o jogador que ganhar vai ter vencido sequencialmente quatro mesas compostas por seis jogadores.

CT: De que mesa é essa mão?

DC: Essa é da primeira mesa, de onde eu saí vencedor.

CT: Você tinha acabado de ganhar um evento FTOPS alguns dias antes. Parabéns.

DC: Obrigado. Ganhei o primeiro evento FTOPS dessa série, então estava confiante ao entrar em outro torneio da mesma série. Logo no início dessa mesa, abri aumentando muitos potes — sempre tentando ganhar posição na mão, é claro — e desenvolvi uma imagem bastante agressiva logo cedo.

CT: Quando teve início o heads-up, o vilão estava bem?

DC: Para dar o devido crédito, ele estava jogando decentemente contra mim. Não posso afirmar com certeza, mas tenho a impressão de que ele estava flopando melhor do que estava jogando. Mas eu acho que a maioria dos jogadores de poker gosta de pensar que é melhor do que seus oponentes.

CT: É sempre importante compreender o fluxo do jogo e o momento bom de uma partida antes de analisar o que realmente aconteceu. Todos esses fatores determinam como você vai jogar cada mão. Vamos passar à mão.

Vilão aumenta do button para 200; muckducks paga com 97.

DC: Tendo em vista os tamanhos de nossos estoques, na maioria das vezes eu vou apenas pagar aqui e ver um flop, pois minha mão joga bem pós-flop. Há algumas instâncias em que eu reaumento, mas com base em minha imagem de “loose maluco”, essa é a hora ideal para ver um flop, pois meus reraises não vão obter o respeito de que eu precisaria.

Flop: 542 (pote: 400)

DC: Não flopei nada, mas tenho quedas para straight e flush na última carta, e para um jogador agressivo como eu, isso é provocante. Sei que meu oponente é bom o suficiente para saber que deve fazer uma continuation bet com cerca de 100% de sua gama quando aumenta pré-flop em uma situação heads-up. Sei também que ele sabe que minha gama é ampla a ponto de não precisar acertar muito um flop.

Muckducks pede mesa. Vilão aposta 275.

DC: Decidi fazer um float com todas essas infinitas possibilidades na última carta (risos). Mas é também importante notar que meu 9 e meu 7 provavelmente são outs caso eu os acerte no turn.

Turn: 8 (pote: 950)

Muckducks aposta 550.

CT: Explique-me o método por trás da loucura de ter você saído apostando no turn. Eu presumo que seja basicamente a única chance que você tem de ganhar o pote.

DC: Verdade. Essa carta do turn não me ajudou muito — ela me deu um queda para a gaveta com o 6, e nada mais — mas é mais provável que não tenha beneficiado a mão de meu oponente. Portanto, eu quero tentar afastá-lo do que eu suponho que sejam duas overcards nessa situação, e com esse turn, posso meio que começar a representar mais do bordo: isso faz com que a possibilidade de um blefe comece a ser talhada.

Vilão paga 550.

CT: E agora, como você se sente em relação a esse blefe?

DC: Quando ele paga minha aposta, faz com que eu queira vomitar. Já não tenho o que fazer com minha mão, mas espere…

River: 8 (pote: 2,050)

DC: Quando o 8 surge no river, é a carta perfeita para um check-raise all-in blefando — se você for louco como eu sou.

CT: Não entendi.

DC: Permita-me explicar. Eu tenho absolutamente zero chances de ganhar essa mão se decidir tomar a iniciativa no river. A razão é que meu oponente vai pagar com boa parte de sua gama que ele achava ser a melhor mão no turn. Mãos como um par aleatório, pares na mão de 2-2 até J-J, e talvez até de J-J a A-A são todos possíveis; e há também os draws perdidos que ele usa como float no turn, e mãos com ás e outra carta qualquer também.
Muckducks pede mesa.

DC: Eu peço mesa, sabendo que, na maioria das vezes, ele vai dar check novamente e eu vou perder o pote. O interessante sobre essa mão é que meu oponente é bom o suficiente para apostar com mãos marginais pelo valor e bom o suficiente para apostar com seus draws que não bateram, sabendo que não tem valor de showdown.

Vilão aposta 1.325.

DC: E sabendo que é provável que ele aposte pelo valor marginal ou tenha um draw não formado, essa situação inicialmente sem valor agora se torna uma situação lucrativa para jogar poker — o check-raise all-in blefando no river.

CT: Eu sou cético. Então, o que você está representando?

DC: Além dos fatores que já expliquei, o fato de eu ter pagado a continuation bet dele no flop e depois ter saído apostando no turn representa muitas coisas diferentes. Algumas delas, meu oponente provavelmente encara como mãos legítimas — mas contra as quais ele talvez tenha equidade ou possa blefar quando eu, muito provavelmente, pedir mesa no river, que foi o que eu fiz — e outras que ele sabe que não são nada, pois estou certo de que ele pensa que posso tentar um float com nada, depois tentar ganhar no turn.

CT: Então, por que o 8 é uma ótima carta para fazer essa jogada?

DC: O fato é que era perfeita e talvez a única carta que eu poderia usar para representar um monstro.
CT: Por quê?

DC: A partida estava em um nível alto o suficiente para que eu, primeiramente, pudesse fazer coisas complicadas contra esse cara. O vinda do 8 no river é realmente e única carta perigosa o suficiente para que eu opte por um check-raise blefando. Estou telegrafando para meu oponente que eu tenho uma trinca de oitos ou um full house. O que eu faço nessa mão é exatamente o que eu faria se estivesse jogando com um monstro como 2-2 ou 4-4, e também como eu jogaria com uma trinca de oitos se eu a tivesse. O fato é que eu poderia facilmente ter 87 em vez de 97, e dado float no flop e apostado no turn da mesma maneira. Além disso, contra oponentes mais espertos, eu ocasionalmente fico bastante complicado e jogo uma mão pronta como A-A ou K-K dessa maneira. Resumindo, sem o aparecimento do 8 no bordo, eu não posso ser acreditado muito facilmente, mas quando ele aparece, não há dúvida de que um oponente inteligente vai ter dificuldade em pagar o que eu fiz parecer uma gama muito grande de mãos.

CT: E você disse que seu oponente era um bom jogador, o que significa…

DC: Bons jogadores sabem que, quando sofrem um check-raise no river, na maioria das vezes estão derrotados. Essencialmente, eu sabia que ele era bom o bastante para me fazer desistir, então disparei.

Muckducks vai all-in com 9.097. Vilão desiste. Muckducks ganha o pote de 3.375.

David Cairns nasceu em Toronto, Canadá. Ele era um ávido competidor de esqui e chegou até mesmo a competir, mas abandonou antes de entrar na faculdade. Ele se formou recentemente na McGill University em Montreal, com um diploma em ciência política e um secundário em marketing. Ele começou a jogar poker aos 17 anos. Há pouco, ganhou o evento FTOPS de no-limit hold’em de $216 nº 1, faturando $216.513. Ele também cravou torneios recentes do Full Tilt Poker de $65.000 e $22.000 garantidos, levando $22.000 e $11.600, respectivamente.




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