EDIÇÃO 30 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Bad Beats e a Lei Murphy

Tolice!


Alan Schoonmaker

As mesmas motivações psicológicas que fazem com que as pessoas contem histórias de bad beats também faz com que elas creiam na Lei de Murphy e executem ações de autossabotagem. A Lei de Murphy diz: “Se algo pode dar errado, vai dar errado”.

Tolice. Se isso fosse verdade, ninguém jamais faria nada. Muitas coisas são realizadas de maneira perfeita, e incontáveis outras são feitas de maneira razoavelmente satisfatória.

Então por que tantas pessoas acreditam em uma lei tão obviamente inválida? Pela mesma razão por que acreditam que sofrem mais bad beats do que merecem: elas acham que merecem mais sorte do que têm. Elas essencialmente se lamentam: “Por que tantas coisas ruins acontecem comigo?”

Você pode respondê-las: “Mas você não é azarado. Você é saudável e tem um bom emprego e uma ótima família”.

Elas não querem ouvir que a sorte de todo mundo é um misto de bom e mau. Elas se ressentem porque não conseguem tudo que acham que merecem.



Essa Sensação Está em Todo Lugar

Quase todos nós — inclusive eu — não somos bons ao perceber a realidade sobre nós mesmos. Nós somos particularmente propensos a distorcer as probabilidades de eventos raros e desagradáveis. Nós podemos aceitar intelectualmente que eles ocorrem com a frequência que esperamos, mas quando algo raro e ruim acontece conosco, achamos que a Lei de Murphy, os deuses do poker ou alguma outra coisa nos amaldiçoou.

Bad Beats e Pensamentos Negativos

Você não pode fazer nada quanto a bad beats, mas deve mudar a maneira como as encara. Você provavelmente já leu que: (1) os bons jogadores sofrem bem mais bad beats do que os ruins, pois eles colocam seu dinheiro com as melhores mãos; (2) se os jogadores ruins não conseguissem acertar seus draws ocasionalmente, eles parariam de correr riscos tolos.

O segundo ponto já foi chamado de “A Beleza do Poker”. Como os jogadores ruins ocasionalmente têm sorte, eles continuam a correr riscos tolos. Melhor ainda, como culpam o azar em vez do jogo ruim, eles continuam a nos dar seu dinheiro.

Mesmo os jogadores que entendem esses argumentos geralmente reagem mal a bad beats. Eles podem aceitar intelectualmente que isso acontece com todo mundo com a frequência que os matemáticos preveem. As pessoas acertam um de dois outs no river ou flushes runner-runner cerca de 4% das vezes. Mas, quando um desses raros eventos se concretiza, parece que eles acontecem o tempo todo.

“Eu Prefiro Ser Sortudo A Ser Bom”
Você com certeza já ouviu esse comentários muitas vezes, e você mesmo pode ter dito isso. Quando alguém que está perdendo muito ou acabou de perder um pote diz isso, ele realmente quer dizer: “Eu sou bom, mas azarado”.

Tolice! Se seus resultados são ruins, é culpa sua, e seus resultados não vão melhorar até que você aceite a responsabilidade por eles e corrija as falhas do seu jogo. O desejo de preservar a crença “Eu sou bom, mas azarado” faz com que muitos jogadores concentrem suas atenções na sorte em vez de focar na única coisa que controlam — seu próprio jogo.

Por exemplo, um amigo “prova” que é azarado anotando cada bad beat que sofre, e define “bad beat” de forma bem ampla. Se ele estava à frente em qualquer momento durante uma mão, mas a perdeu, ele encara isso como bad beat, e fica irritado. Depois de contar uma história de bad beat, o colunista da Card Player Barry Tanenbaum disse: “Se você tiver 92% de equidade no turn e ganhar o pote, seus 92% se transformaram em 100%. O outro cara perdeu seus 8%”.

Nosso amigo pode ou não ter aceitado esse argumento no âmbito intelectual, mas do ponto de vista instintivo, ele o rejeita totalmente. Sua raiva dos “imbecis sortudos” é sua maior fraqueza, e eu falarei mais sobre isso na minha próxima coluna.



Profecias Que se Concretizam

Se você acha que é azarado, você será “azarado”. Eu coloquei aspas entre o termo porque não quero afirmar o absurdo de que seus pensamentos influenciam suas cartas. O que quero dizer é que você vai jogar mal, e seu jogo ruim vai lhe causar maus resultados. Isso aconteceu recentemente com três amigos diferentes enquanto eles jogavam limit hold’em. Eu usarei nomes falsos.

Quando estávamos jogando juntos, Arnie flopou o nut flush draw em um bordo com K-7-4. Um jogador apostou e dois outros deram call. Arnie deu apenas call. Mais tarde, eu o perguntei: “Por que você não deu raise?”

Ele respondeu: “Eu nunca acerto meus flushes”.
“Não seja tolo. Eu vi você fazer dois essa noite, e um deles levou um grande pote”.
“É, mas eu quase sempre perco”.

Obviamente, ele os acerta com a mesma frequência que todo mundo, mas se recusa a acreditar. Ninguém acerta muitos: quando você começa com duas cartas do mesmo naipe, formará um flush apenas cerca de uma vez a cada 17. Quando flopa um flush draw, você o completará apenas um terço das vezes. De fato, como perdeu o flush, ele acha que economizou dinheiro por não ter dado raise. Na verdade, ele perdeu um EV significativo.

Bob me disse que estava confiante de que estava à frente no turn e que Judy tinha um draw para um flush, mas ele não apostou. Por quê? “Porque Judy sempre acerta seus flushes, especialmente contra mim”. Como ela vai perder quatro a cada cinco vezes, ele perdeu um EV importante ao não apostar, independentemente de ela ter perdido ou formado aquele flush em particular.

Bárbara estava no button contra quatro oponentes. Ela flopou dois pares, mas o turn colocou três cartas para um straight e três para um flush no bordo. O pote era relativamente grande, e a mesa rodou em check até ela. Quando um pote fica grande (especialmente se vários jogadores estiverem envolvidos), você deve fazer o que for preciso para aumentar suas chances de ganhá-lo. Se isso lhe custar uma bet ou duas, que seja.

Em vez de proteger sua mão, ela imediatamente pensou: “Droga! Alguém acertou um draw e me venceu de novo!” Ela então pediu mesa depois deles, dando a quatro jogadores uma carta grátis. O river foi irrelevante, e ela ganhou o pote. Mas ela provavelmente perdeu uma big bet ou duas. Pior ainda, aquela carta grátis poderia ter formado um flush, um straight ou uma trinca para alguém que teria dado fold diante de uma aposta dela. Se aquela carta grátis a tivesse derrotado, tenho certeza de que ela teria reclamado — pelo menos consigo mesma — de seu terrível azar. Ela não teria sequer considerado o fato de que seu erro lhe custara o pote.



Pare de Sentir Pena de Si Mesmo

Enquanto se sentir como uma vítima azarada, você vai jogar com medo, e poker medroso é poker ruim. Achar que você é uma vítima azarada vai fazer com que se torne uma. Você vai dar fold, check ou call quando deveria apostar ou aumentar, o que lhe custa um pouco de EV aqui e ali, fazendo com que você ocasionalmente perca um grande pote que poderia ter ganhado. O efeito cumulativo de seu jogo fraco e passivo vai ser resultados ruins, e você vai merecê-los.

De modo inverso, quando você para de sentir pena de si mesmo, passa a jogar com mais autoconfiança e decisão. E quanto melhor você jogar, mais “sortudo” se tornará.




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