EDIÇÃO 37 » FIQUE POR DENTRO

Dominando a mesa final - Vanessa Rousso Calcula a Razão Risco/Recompensa Enquanto Tentava Chegar à Mesa Final


Craig Tapscott

Vanessa Rousso se formou na Duke University em dois anos e meio em 2003, o menor tempo de graduação da história dessa universidade. Em 2006, enquanto frequentava a University of Miami School of Law, ela resolveu realizar seu sonho de se tornar jogadora profissional de poker. Vanessa é membro do PokerStars Team Pro, estrela do GoDaddy.com e conta com mais de $3,5 milhões ganhos em torneios na carreira, live e online. Ela é fundadora da instituição de caridade No-Limit, No-Profit Initiative e do the Big Slick Boot Camp. Ela também se orgulha de recentemente ter criado um inovador aplicativo de heads-up para iPhone/iPad, chamado “Poker 1-on-1 With Vanessa Rousso”.

Evento Main event do North American Poker Tour Mohegan Sun 2010
Jogadores no Evento 716
Buy-in $5.000
Primeiro Prêmio $750.000
Colocação 10ª

Mão nº 1
Stacks: Vanessa Rousso – 900.000    Cliff Josephy – 564.000    Andrew Ferguson – 601.000
Blinds: 6.000-12.000    Antes: 1.000    Jogadores na Mesa: 9

Mão nº 1
Conceitos Chave: Sobrevivência; paciência; prestar atenção nos oponentes

Cliff “JohnnyBax” Josephy dá raise de 25.000 de posição intermediária. Andrew Ferguson dá call do cutoff. Vanessa Rousso volta reraise de 90.000 do small blind com J J.

Craig Tapscott: É muito importante prestar atenção a cada fator à medida que você avança em um torneio. Vanessa, gostaria que nos fale sobre seu raciocínio à medida que você se conduz à mesa final.

Vanessa Rousso: Eu recebi um par de valetes, e dar call nesse momento do torneio (com tantas fichas no pote) provavelmente é incorreto, pois eu talvez tenha a melhor mão pré-flop. Não quero dar a ninguém um flop grátis quando é muito improvável que eu flope uma trinca ou tenha um overpair depois do flop. Além disso, como tenho um grande estoque e geralmente apresento uma imagem bastante agressiva, sei que meu reraise pode não ser levado muito a sério. Portanto, voltei um reraise um pouco mais alto do que de costume, para deixar claro que eu realmente tinha uma mão. Essa é uma maneira de reduzir a gama de mãos com que meus oponentes jogariam contra mim, de modo que eu possa tomar decisões mais efetivas mais tarde na mão.

Josephy reflete e depois vai all-in.

CT: Quais são os prós e contras nessa situação?

VR: A gama em que eu o coloquei era 10-10, Q-Q, K-K e A-K. Com A-A, achei que ele tentaria tirar mais fichas de mim dando um reraise menor. Se eu der call e perder, meu stack vai ficar um pouco abaixo da média. Alguns jogadores não entendem que, nos torneios de poker, o importante não é ganhar todos os potes: a coisa mais importante é a sobrevivência. Nessa mão, havia significativamente mais contras do que prós. Quando uma grande porção do meu estoque está em jogo, eu prefiro ter um coinflip na pior das hipóteses e, na melhor, dominar meu oponente. Muito embora o pote me desse odds significativas com o tanto que já estava em jogo, decisões assim devem ser tomadas em um contexto de sobrevivência, em vez de se pensar apenas em pot odds. No final, achei que, com jogadores tão fortes ainda presentes no field, ter o dobro de um estoque médio era uma vantagem importante. O risco simplesmente não valia a pena.
Vanessa dá fold. Josephy ganha o pote de 161.000.

CT: Qual é a principal coisa que você aprendeu a observar quando está na fase final de um evento?

VR: A decisão mais importante que eu tomo é se devo jogar ou não uma mão em primeiro lugar. Geralmente, dá errado para mim quando eu jogo uma mão que não deveria ter jogado; e aí eu acabo perdendo grandes potes. Pensar bem sobre as mãos com as quais eu resolvo jogar antes do flop, os oponentes que eu provavelmente vou enfrentar e a posição em que estarei são chaves para mim.


Mão nº 2
Stacks: Vanessa Rousso – 600.000    Taha Maruf – 420.000
Blinds: 10.000-20.000    Antes: 2.000    Jogadores na Mesa: 8    Jogadores Restantes: 23

Mão nº 2
Conceitos Chave: Leverage; contar uma história verossímil; correr um risco calculado; imagem à mesa
Vanessa entra de limp da posição hijack com 8 7. Taha Maruf dá check do big blind.

CT: Por que você resolveu entrar de limp?

VR: Maruf estava no big blind e estava short stack com um “M” de mais ou menos 8. (Eu meço a “saúde” das minhas fichas em um torneio pelo tamanho do meu M — o conceito de Dan Harrington que calcula o número de rodadas que você pode pagar para jogar, tendo em vista a quantidade de fichas que lhe custa por rodada). Antes dessa mão, Maruf tinha empurrado all-in pré-flop diante de raises duas vezes. Eu não quis incentivá-lo a empurrar all-in colocando muito no pote com um raise.

CT: Houve alguma outra razão para o limp?

VR: Eu tinha dois estoques grande à minha esquerda. Toda vez que um short stack (como eu) dava raise, eles voltavam reraise como forma de leverage para colocar pressão em nós, para que tomássemos decisões que comprometessem todas as nossas fichas. Eu não queria me colocar em uma situação na qual seria forçada a dar fold antes do flop. Eu estava preparada para dar call em um raise, mas achei que provavelmente acabaria em um pote com limpers contra os blinds, e com ambos eu achava que jogaria bem pós-flop, tendo em vista os tamanhos dos estoques. Considerando tudo isso, eu planejava utilizar leverage e posição para maximizar minhas chances de ganhar o pote.

Flop: A 10 3 (pote: 66.000)

VR: Esse foi um bom flop, pois, caso ele tivesse um ás nessa mão, provavelmente teria dado reraise pré-flop ou pelo menos considerado um raise. Eu poderia muito bem representar eu mesma um ás suited, e não era impossível eu ter um 10 nas mãos.

Maruf dá check. Vanessa aposta 20.000. Maruf dá call.
Turn: 4 (pote: 106.000)
Maruf dá check.

CT: Você teve alguma leitura diante da velocidade do call dele ou de seu comportamento?

VR: Bem, ele pagou bem depressa. Nesse momento, eu achei que ele poderia ter um flush draw ou um par de dez, ou talvez um par de três. Caso ele tivesse o ás, achei que ele daria raise aqui ou mais uma vez pensaria um pouco cogitando fazer isso. Portanto, decidi representar uma mão forte.

Vanessa aposta 50.000.

CT: Por que uma aposta desse tamanho?

VR: Achei que ela o faria tomar uma decisão comprometedora, e que ele daria shove ou fold, tendo em vista o tamanho de seu estoque.

Maruf dá call.
River: 5 (pote: 206.000)
Maruf dá check.

VR: Eu duvido que ele desse check com o straight e arriscasse um check meu em seguida. Eu tinha plena certeza agora de que ele tinha um ás ou um 10 muito bom. No entanto, havia um montante de fichas significativo no pote, que, naquele momento, fazia valer a pena correr um risco calculado para tentar ganhar. O que me ajudava era o fato de eu ter uma boa imagem à mesa.

CT: Mas ele parece um pitbull que não larga o osso.

VR: Sim. Mas como ele tinha acabado de dar call e não tinha dado raise em momento algum, eu sabia que essa não era uma mão com a qual ele quisesse perder, e que ele provavelmente desistiria diante de uma aposta considerável.

CT: Como você escolhe o tamanho certo da aposta?

VR: Eu precisava fazer uma aposta grande que fizesse parecer que eu havia comprometido meu estoque e que pagaria um all-in caso ele esse empurrasse todas as fichas.

Vanessa aposta 140.000.

VR: Sempre que você tenta um grande blefe como esse, precisa contar uma história verossímil. Eu tinha mostrado força ao longo da mão. Você precisa se certificar de que em nenhum momento da mão jogou de modo a não ser consistente com aquilo que está representando.

Maruf dá fold. Vanessa ganha o pote de 206.000.




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