EDIÇÃO 37 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Mais Perguntas da Rússia


Alan Schoonmaker

Leitores das traduções russas dos meus livros Seu Pior Inimigo do Poker e Seu Melhor Amigo no Poker tinham algumas dúvidas, então o editor de Moscou traduziu algumas perguntas e respostas para esta coluna.

Pergunta: Períodos de perdas fazem com que eu me sinta um grande fracassado. Como eu posso superar isso?

Resposta: Torne-se mais realista quanto ao poker, e não o leve tão a sério.

1. Perder é uma parte inevitável do poker (e da vida). Mesmo os grandes jogadores perdem cerca de um terço das vezes, e eles aceitam esses períodos como apenas parte do jogo.

2. Se você não conseguir aceitar o poker como ele é, incluindo todas as suas frustrações, não jogue.

3. Aprender a lidar com perdas é uma das lições mais valiosas do poker. David Sklansky e eu incluímos essa lição em “O Poker é Bom Para Você”, o apêndice do nosso novo livro, DUCY? ( “Do You See Why?”)

4. O poker é um jogo, não sua vida. DUCY? contém um capítulo intitulado “O Efeito Aceleração”, que recomenda lidar com as decepções tendo “muitos ferros no fogo”. Se você tiver muitas atividades, o sucesso em algumas vai superar os sentimentos negativos das perdas no poker. Contudo, se você permitir que o poker domine a sua vida e os seus sentimentos, estará sempre em uma montanha-russa emocional. As alterações de humor podem prejudicar partes mais importantes da sua vida, como seu trabalho e seus relacionamentos pessoais.

P: Eu comecei a jogar poker há dois anos, e não sou muito bom. Quando eu jogo apenas com amigos, meus resultados são bons, mas eu perco quando jogo online. Por quê?

R: Primeiro, em jogos online, o rake é tão alto que quase todo mundo perde. Segundo, jogadores online são geralmente mais fortes do que os de cassino, que provavelmente são melhores do que os seus amigos. Muitos jogos online têm até profissionais que jogam em múltiplas mesas simultaneamente (e em regra ganham rakeback). O rake e uma concorrência mais acirrada praticamente garantem resultados decepcionantes. Até que suas habilidades se aperfeiçoem, jogue majoritariamente ou apenas com os seus amigos.

P: Por que eu acho que todo raise é uma tentativa de intimidação e reajo dando reraise com lixo? Será que é por que eu sou apenas uma garota?

R: Pouquíssimos homens tentam intimidar mulheres, mas você parece levar cada raise para o lado pessoal. Como eu escrevi em Vencedores São Diferentes [em breve em português pela Raise Editora], os vencedores despersonalizam os conflitos. O poker é intrinsecamente antagônico. Nós queremos tirar dinheiro uns dos outros. Dar raise é uma arma essencial no poker, não um ataque pessoal. Essa é apenas a maneira como o jogo é jogado.

Como você leva os raises para o lado pessoal, acaba reagindo de forma emocional e dá reraise com lixo. Você não se vinga ao dar seu dinheiro aos intimidadores. Você se vinga tomando o dinheiro deles, e seu sexo pode lhe ajudar. Alguns livros e artigos para jogadoras podem lhe ajudar a derrotar homens que lhe subestimam ou lhe perseguem. Procure no Google “poker for women”.

E pare de pensar: “Eu sou apenas uma garota”. Alguns excelentes profissionais são mulheres, incluindo minhas amigas Linda Johnson e Jan Fisher. Elas ganham porque mantêm a calma e jogam muito bem. Se eu dissesse: “Você é apenas uma garota”, elas ririam na minha cara (ou me bateriam).

P: Meus amigos e eu jogamos sit-and-gos (SNGs) e torneios multitable de $22. Tudo estava indo ótimo. Nós aprendemos a jogar, evoluímos e ganhamos algum dinheiro. Mas um de nós tomou uma bad beat e contaminou todos os outros. Nós temos sofrido uma bad beat após a outra, e tiltamos. Hoje nós ganhamos um a cada 30 SNGs. Nós estávamos ganhando, mas agora estamos perdendo. Essa situação tem se perpetuado há três semanas. Você já estudou o “tilt coletivo”?

R: Não, mas posso propor algumas recomendações. Primeiro, aceite que não existe algo como uma “epidemia” de bad beats. As cartas são sempre aleatórias. Quer você ou seus amigos tenham perdido quer tenham ganhado as últimas 10 mãos ou SNGs, isso não tem nenhum efeito sobre suas cartas agora.

Segundo, não reclame nem dê ouvidos às reclamações de outras pessoas sobre azar. Quando vocês falam sobre suas bad beats, mutuamente reforçam sentimentos de derrota. Bad beats não são contagiosas, mas sentimentos sim. Acreditar que “Estamos sem sorte” reduz a autoconfiança de todo mundo, fazendo com que todos vocês joguem um poker tímido e inseguro. Você cria então um círculo vicioso: seu jogo tímido lhe faz perder, reforçando a crença de que você é azarado, fazendo com que você jogue mais timidamente, e assim por diante.

P: Eu sou um jogador novato e geralmente me deparo com a seguinte situação em torneios: eu estou quase in the money, e jogo uma mão como A-Q, A-10 ou K-J. O flop não ajuda e minha continuation-bet é paga por um grande estoque. Ele então me força a ir all-in no turn ou river. Eu perco para um par de dez, uma trinca de seis ou algo do tipo. Eu não acredito que a mão dele seja mais forte que a minha. Eu acho que ele está blefando e me intimidando. O que você me aconselharia?

R: Cada uma das mãos que você listou não é tão boa. Doyle Brunson as chamou de “Mãos Problemáticas” (Super System 2, página 614). A não ser nas condições certas, não jogue com elas. Quando jogar, não acertar o flop e sua continuation-bet for paga, descarte-as, especialmente quando estiver perto da zona de premiação e contra um grande estoque.

Você escreveu que não acredita que seu oponente tenha uma mão mais forte que a sua. Bem, é melhor aprender a acreditar. Você tem muito medo de ser vítima de blefe. Bons jogadores adoram pessoas que se sentem assim.

P: O tópico mais popular nos fóruns russos é: “Como eu fui engolido por um fish”. E eu com frequência me encontro na mandíbula dos fishes. Como eu devo jogar contra eles?

R: Os norte-americanos se lamentam tanto quando os russos sobre serem devorados por fishes. Na verdade, “fish” é uma palavra tão mal definida que muitos profissionais sequer a utilizam.

Você provavelmente quis dizer: “Como eu devo jogar contra oponentes fracos?” Jogar contra eles é frustrante, mas você deve ganhar muito mais do que ganharia contra adversários melhores. Seus resultados dependem principalmente da diferença entre sua habilidade e a deles. Quanto mais fracos eles forem, mais você deve ganhar.

Contudo, você vai se dar mal enquanto não parar de pensar em “fishes” e passar a analisar os estilos, forças e fraquezas dos seus oponentes, e então desenvolver uma estratégia com base em tais análises.
Conclusão: Algumas dessas perguntas foram simplórias. Eu não fico surpreso, pois temos jogado poker há bem mais tempo do que os russos. Fico feliz que eles tenham feito esses questionamentos, e espero que os leitores da Card Player sigam o exemplo deles, pois a maioria dos colunistas da revista acha bem vindos todos os tipos de perguntas e comentários.

Alan Schoonmaker é PhD em psicologia ocupacional e autor da Trilogia da Psicologia do Poker, disponível em português pela Raise Editora.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×