EDIÇÃO 37 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

A importância do fold

Vamos investigar a fundo as razões do fold no poker


André Dexx

Podemos começar dizendo que, se você não der fold, a lógica diz que você estará abrindo com todas as combinações de mãos, logo, seus adversários saberão que você está blefando a maior parte do tempo. Mas se você der fold até mesmo antes de receber as duas cartas, estará cometendo um outro erro, sendo previsível mais uma vez, já que seu oponente saberá que você está entrando somente com suas melhores mãos. Percebe-se então que o equilíbrio é a arma do sucesso no poker. Vamos equilibrar nosso range entre mãos de valor e mãos de blefe até onde o oponente em questão nos permitir, tornando-nos, assim, o mais lucrativo possível.

Podemos exemplificar da seguinte maneira: se o oponente à nossa esquerda for loose, deveremos selecionar melhor nossas mãos. Quer dizer, deveremos dar fold uma maior quantidade de vezes, o suficiente para selecionarmos melhor nossas mãos sabendo que vamos enfrentá-lo uma boa quantidade das vezes. Já quando estamos enfrentando um oponente nit, abriremos com todo tipo de mão, considerando que ele dará fold a maior parte do tempo. Abrir com todo o nosso range será lucrativo, compensando as vezes em que ele dará call. Por isso existe a velha máxima segundo a qual se que se a mesa for loose, temos que ser tight, e se a mesa for tight, temos de ser loose. Apesar de eu não concordar 100% com isso, o exemplo ilustra bem o que falamos.

O mesmo raciocínio do fold pré-flop é usado para uma continuation-bet. Assim, não podemos dar 100% das vezes continuation-bet, já que entramos com um range grande pré-flop e é matematicamente impossível acertamos sempre uma mão no flop. Portanto, quem estivermos enfrentando saberá que a maior parte do tempo estaremos blefando, então será fácil recebermos uma grande quantidade de raises e floats, tornando nossas continuation-bets menos lucrativas ou até nos dando prejuízo com esse movimento no longo prazo. Da mesma forma que, se o nosso oponente abusar de raises e floats contra as continuation-bets, iremos aumentar a quantidade de reraises e apostas no turn, podemos também economizar uma continuation-bet desistindo da mão, por isso também é importante que o nosso oponente esteja ligado na quantidade certa de fold para nossa continuation-bet.

Percebendo o quanto é importante regularmos esses movimentos sabendo usar o botão do fold nas horas certas, considerando o range dos seus oponentes, os boards certos e a sua imagem, ante a frequência com que se tem dado fold, obteremos uma notável mudança em termos de rentabilidade, sabendo que os jogadores bons nos seus limites atualmente estão lutando para uma rentabilidade em torno de 2 a 3 PTBB (4 a 6 big blinds por 100 mãos), então,  supondo que estejamos poupando 1 continuation-bet a cada 100 mãos, isso daria mais ou menos de 6 a 7 big blinds (3 a 3,5 PTBB) em nossas continuations-bets mal dadas.

Nota-se que o balanço perfeito entre atirar e desistir é um dos diferenciais dos bons jogadores: é dessa maneira que perdemos o mínimo e acertamos com perfeição nossos movimentos porque seremos mais imprevisíveis.  No exemplo acima, eu demonstro como uma continuation-bet pode ser cara, e observamos que, se o executarmos com precisão, esse movimento ajudará nossa rentabilidade. Agora vamos pensar na diferença que pode fazer explorar outras possibilidades de movimentos tendo em mente nossa imagem, sabendo que ela é consequência principalmente da quantidade de folds que estamos dando no jogo ou de quão sólido estamos jogando. Abaixo, um exemplo de uma jogada mais avançada que podemos usar em nosso arsenal dependendo da imagem que o nosso oponente enxerga de nós.

Damos call dos blinds com um par baixo quando o flop sai Q-5-2 rainbow. Pagamos uma continuation-bet do oponente, no turn damos check e o nosso oponente também dá check.  No river nós damos check pensando em chegar ao showdown, mas também planejamos que, se o oponente apostar no river, daremos um raise, transformando nosso pocket pair em um blefe, dando, assim, um check-raise.

O check-raise só é possível porque conseguimos pôr o nosso oponente num range fraco, já que sabemos que, se ele tivesse pelo menos um par de Q com um kicker bom, apostaria no turn tirando valor, e principalmente porque sabemos que o oponente no momento nos vê com uma imagem de jogador sólido que até então não fez nenhum grande movimento no jogo, então concluímos que, além de a mão do nosso oponente provavelmente ser fraca, também sabemos que ele vai nos colocar em uma mão com no mínimo dois pares na maioria das vezes e então dará fold.

Como vocês podem ver, existem algumas variáveis para aumentarmos ou diminuirmos a quantidade de fold. Essas variáveis são:

1) Imagem do nosso oponente: temos que identificar quem estamos enfrentando.
2) Nossa imagem: temos que saber que tipo de imagem o oponente enxerga em nós.
3) Nossa mão: qual é nossa mão? Quanto melhor for a mão, mais inclinados estaremos a jogar, variando com a imagem do nosso oponente e a que ele tem de nós.

Espero ter colaborado para esse tema que é tão falado, mas ao mesmo tempo tão pouco explicado, pelo menos do jeito que deveria ser. Mandem críticas e sugestões dos meus artigos para contato@cardplayerbrasil.com.




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