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THIAGO DECANO - Anti-Herói do Poker?

Thiago Nishijima, o “Decano”, nasceu em São Paulo. Largou carreira e diploma, mudou-se para o litoral catarinense e virou jogador profissional de poker. Apesar de ter conseguido resultados para lá de expressivos, que incluem um bracelete da WCOOP e uma mesa final na WSOP, ele continua sem patrocínio. Por quê? Por opção. Para aproveitar a vida que conquistou – e também por achar que os jogadores brasileiros não são devidamente valorizados – Decano não é, nem nunca foi, patrocinado por um site de poker. Seria ele uma espécie de anti-herói do poker nacional?


Gabriel Rubinsteinn

Thiago Nishijima, o “Decano”, nasceu em São Paulo. Largou carreira e diploma, mudou-se para o litoral catarinense e virou jogador profissional de poker.

Apesar de ter conseguido resultados para lá de expressivos, que incluem um bracelete da WCOOP e uma mesa final na WSOP, ele continua sem patrocínio. Por quê? Por opção.

Para aproveitar a vida que conquistou – e também por achar que os jogadores brasileiros não são devidamente valorizados – Decano não é, nem nunca foi, patrocinado por um site de poker.

Seria ele uma espécie de anti-herói do poker nacional? O contraponto ao sonho de todo jogador? Independentemente disso, o fato é que ele parece saber onde pisa.

Mesmo sendo um pouco tímido e avesso a holofotes, Thiago Decano falou com exclusividade à CardPlayer Brasil. Confira.

CPB: Decano, como e por que você decidiu virar jogador de poker profissional?

TD: Um amigo do trabalho me apresentou o poker em 2006. Fiquei fascinado. Nunca tinha jogado antes e me apaixonei. Comecei a conhecer melhor, ler, me informar. Logo no início, fiz um depósito num site e comecei a brincar. No primeiro dia, meus 100 dólares viraram 300. Eu já estava me achando o máximo, me empolgando. Não preciso dizer que perdi tudo no dia seguinte – mas eu já estava envolvido. Foi aí que, em meados de 2007, surgiu uma oportunidade de ir para Las Vegas. Eu já tinha um bom bankroll e estava decidido que queria fazer isso para o resto da vida. Resolvi chutar o balde, largar meu trabalho no banco e a faculdade de Direito, no último semestre. Eu não ia exercer a profissão mesmo. Acho Direito legal, mas não me atrai muito. Fiz porque tinha que fazer alguma coisa. E eu já trabalhava no banco, que não tinha nada a ver com o curso... Muita gente pergunta por que eu larguei a faculdade faltando um semestre. Larguei porque preferi perder quatro anos e meio de faculdade do que aqueles seis meses de poker.

CPB: Mas e os riscos dessa decisão? Valiam a pena? O que seus pais acharam disso? Você já era bem grandinho na época e podia tomar suas decisões. Eles lhe apoiaram?

TD: Quando pedi as contas no banco, eu já tinha 28 anos. Tomei a decisão e comuniquei a minha mãe, não precisava mais pedir autorização. Claro que ela se preocupou, tem aquela coisa de mãe. Mas quando falei, fui bem direto, conversamos bastante, expliquei tudo sobre o poker, meus resultados. E ela me conhece bem, sabe que eu não faria uma loucura, não largaria uma carreira sólida se não tivesse certeza de que iria dar certo. Trabalhei de modo a minimizar os riscos, especialmente com relação à administração de bankroll. Sempre quis fazer as coisas com os pés no chão. Eu não era um moleque e sabia que não poderia dar margem a muitos erros. E até hoje sou assim.

CPB: Se você não tivesse tomado esta decisão, estaria trabalhando no banco até hoje? Como seria sua vida sem o poker?

TD:  Do jeito que as coisas andaram, eu tenho certeza de que iria conhecer o poker de algum outro jeito. Se não fosse por aquele amigo, seria por outro. O poker apareceria na minha vida de qualquer jeito. Não me vejo trabalhando no banco, muito menos como advogado.

CPB:  Quando você deixou o emprego e a faculdade, deixou também a cidade de São Paulo. Por quê?

TD: Trabalhar no banco era complicado porque tinha uma cobrança muito forte. Não era um trabalho agradável. Acho que ninguém no mundo trabalha tanto quanto os paulistanos. O ritmo de trabalho é bizarro, é uma vida alucinante. Eu nasci em São Paulo, mas quando me profissionalizei, já conhecia Balneário Camboriú há uns dez anos e decidi me mudar. Eu não tenho escritório, reunião, local de trabalho. Posso trabalhar onde quiser. O poker permite isso.

CPB:  Você é um dos únicos jogadores profissionais do Brasil que não tem patrocínio. Por quê?

TD: Já recebi várias propostas, mas nenhuma que chegasse àquilo que eu espero. Não só em relação a valores, mas também a projeto. Não acho que hoje os jogadores brasileiros sejam valorizados como deveriam pelos patrocinadores. Prefiro recusar e aguardar uma valorização maior.

CPB: Mas ter um patrocinador não lhe daria mais segurança para jogar poker profissionalmente?

TD: Acho que não. Mas a questão não é nem essa. Ter patrocínio não é só jogar com a marca na camiseta. Tem que abraçar a ideia, tem que fazer valer a pena para quem investe. Converso muito com Alexandre Gomes e com André Akkari, que são donos dos melhores contratos de patrocínio do Brasil, e vejo que o tempo e a energia que eles precisam despender para atingir o que os patrocinadores querem é enorme. Tem que se dedicar muito. É como outro trabalho. Como eu jogo muito tempo por dia, quero ter o resto do tempo livre. Quero curtir. Quando estou trabalhando, jogo dez, doze horas por dia. Para jogar tudo isso, e ainda ter milhares de outros compromissos durante o resto do tempo, só valeria a pena se fosse um projeto legal e um contrato muito bom, coisa que nunca apareceu. Já recebi várias propostas, mas nada que me fizesse mudar de opinião.

CPB: Mas essa desvalorização dos jogadores é exclusividade do Brasil ou os gringos têm contratos melhores, que você aceitaria?

TD: Os gringos têm uma valorização muito maior, principalmente porque vivem em outra economia.  Mas tem outra coisa. Se a Nike, por exemplo, abordasse Kaká, oferecesse um contrato de 50 mil dólares e ele aceitasse, como o Ronaldinho poderia pedir 2 milhões? Os patrocinadores chegam aqui no Brasil, oferecem uma migalha e vários jogadores aceitam. Como outro jogador pode pleitear algo maior? Lá fora, eles não fazem essas propostas porque a economia é diferente. Os jogadores top não vão aceitar migalhas.

CPB: Por que você acha que os jogadores brasileiros aceitam “migalhas” dos patrocinadores?

TD: São várias coisas, e uma delas é que muita gente aceita contrato meia-boca só para dizer que é patrocinado. No ano passado vi sites patrocinando alguns jogadores brasileiros que não dá para entender. Não tinha motivo, não tinha como aquele projeto ser bom para os jogadores. E eles acabaram aceitando por status, para aparecer na mídia especializada, trabalhar a imagem etc. O principal problema do poker é que ele mexe com duas coisas muito complicadas: dinheiro e ego. Tem jogador que não convive bem com isso.

CPB: O rápido crescimento do poker no Brasil pode ajudar a mudar este panorama?

TD: Com o crescimento do mercado, a desvalorização dos jogadores vai diminuindo, vai sumindo. Agora, passa poker até em canais de televisão abertos. Todo mundo se encanta, vê o poker na televisão e fica fascinado. É isso que faz o esporte crescer.  E, é claro, aumentando o mercado, aumentando o número de bons jogadores, começa a lei da oferta e da procura e essa desvalorização tende a desaparecer.

CPB: Em algum momento você já se arrependeu de ter recusado uma proposta de patrocínio?

TD: Nunca me arrependi das propostas que recusei. Já tive boas oportunidades, mas nada perto do que eu quero. Se não tiver um projeto em que eu acredite, prefiro ficar sem, não vejo problema nenhum. Não persigo isso, não tenho esse objetivo. Se tivesse esssa pegada de trabalhar minha imagem, teria aceitado alguma proposta, sim. Mas é o meu jeito, prefiro ficar fora dos holofotes. Só mudaria isso por uma proposta e um projeto muito legais.

CPB: Mas será que não é justamente o fato de você ser avesso aos holofotes que lhe impede de receber uma proposta hábil a lhe fazer aceitar um contrato de patrocínio?

TD: Talvez, porque patrocínio tem juito a ver com imagem, mas não é só isso. Qualidade de jogo é fundamental. Jason Mercier, por exemplo, só deixou de ser “Friend” para virar “Team Pro” do PokerStars porque ganhou o EPT High Rollers em Londres. Até então, ele não tinha contrato. Precisou ganhar muito, até bracelete de WSOP, para conseguir um bom patrocinio. Tudo porque ele não tinha uma imagem muito conhecida, não era famoso. É como no futebol: lembra que teve uma época em que o mais jogador bem pago do mundo era Beckham e ele estava longe de ser o melhor?

CPB: Um ano atrás, no PCA 2010, você recebeu um bracelete pela vitória em um evento da WCOOP. Quando foi jogar o torneio High-Rollers, pediu para um amigo guardar a joia, pois não queria usá-la na mesa. Por quê?

TD: No poker ao vivo é dificil reconhecerem uma pessoa que não é patrocinada, que não está ali toda hora. Em termos de jogo, a ausência de patrocínio até ajuda. O cara não saber se você é bom ou ruim ajuda. É muito mais dificil entender a linha de raciocínio de alguém que você não conhece. Mas conforme voce vai jogando, aparecendo na mídia, conseguindo bons resultados, isso desaparece. Se eu jogasse com o bracelete, poderia ser reconhecido e perderia essa vantagem. Então, preferi guardar. Em Monte Carlo, na final do EPT, passei o dia como chip leader, e ninguém me conhecia. Até Sérgio Prado, blogueiro oficial do PokerStars que cobriu o evento, veio me falar que várias pessoas foram até ele perguntar quem eu era. Para mim isso é ótimo.

CPB: Você está sempre jogando torneios fora do país. Seu lucro não aumentaria se um patrocinador pagasse essas viagens?

TD: Dois anos atrás eu decidi que queria conhecer vários lugares do mundo, e o poker era uma ótima chance para fazer isso. Se eu fosse patrocinado, as viagens que eu fiz talvez não fossem tão divertidas, pois eu teria muito mais compromissos profissionais. Então, decidi fazê-las por conta própria. É um investimento pessoal. Investi em mim. Pude viajar, conhecer outras culturas, lugares que não teria oportunidade de conhecer se não fosse o poker. E, além de jogar, sempre me diverti muito. Talvez com um patrocínio eu não pudesse aproveitar tanto cada lugar que vou.

CPB:  De todos os lugares que já visitou, qual você mais gostou?

TD: Las Vegas, sem sombra de dúvida. É o paraíso! Para quem gosta de poker, é um sonho. Junte seu dinheirinho e vá para lá. Além das infinitas opções de entretenimento, tem jogo para todos os bolsos. Nunca vi alguém sair de Vegas e falar que não gostou. É um lugar que todos deveriam tentar conhecer. É maravilhoso!

CPB: Então eu nem preciso perguntar qual o torneio de que você mais gosta...

TD: Pois é... WSOP com certeza! Além do carinho especial por ter feito mesa final em um evento lá, que é o sonho de todo jogador de poker, é em Las Vegas!

CPB: E qual o seu torneio inesquecível? O evento  #45 da WSOP deste ano, que você acabou em terceiro?

TD: Fazer mesa final de WSOP é o sonho de qualquer jogador. Ainda mais em um torneio importante como esse, de no-limit hold’em com buy-in de US$ 1.500. Apesar de ter caído em terceiro, foi maravilhoso. Mas não ter vencido incomoda um pouco, não posso negar. Por isso, acho que o torneio inesquecível é mesmo o da WCOOP. Não pelo prêmio, porque já tive premiações parecidas, mas como conquista. Só tinha fera naquele evento, e ganhar, ainda mais da forma como foi, com mais de quinze horas de jogo, tenho mesmo que me orgulhar. Sempre vou preferir o torneio que venci [risos].

CPB: Para quem joga os grandes torneios fora do país, os torneios brasileiros ficam sem graça?

TD: Fui ao BSOP de São Paulo, no começo de novembro do ano passado, e o evento tinha uma baita estrutura. Não deixa a desejar a nenhum lugar do mundo. É melhor do que muitos, aliás. Só acho que tem que melhorar a jogabilidade, a estrutura de blinds. Fora isso, o torneio é fantástico. Muito mais bem organizado do que algumas etapas do WPT ou do EPT que vemos por aí...

CPB: Então você acha que a presença de jogadores estrangeiros, como aconteceu nesse BSOP, vai virar rotina?

TD: O maior problema para isso acontecer é que, mesmo nos torneios grandes, como o BSOP, as premiações são quase insignificantes para um jogador estrangeiro de alto nível. Essa é um problema da nossa economia.  Gus Hansen, por exemplo, que jogou em São Paulo, joga cash games com blinds de 500-1000 dólares: os potes são milionários! Por que encarar uma viagem longa, vários dias longe de casa, por um dinheiro que ele ganha numa noite? Acho que para eles vale mais como divulgação de marca, imagem etc. E também porque, para eles, é muito legal vir para o Brasil, que é uma viagem de que todos gostam. Não sei se vai virar rotina, mas o BSOP deu um grande passo. Caras muito famosos, que falaram muito bem do torneio, adoraram...

CPB: Até onde você acha que o mercado nacional de poker pode chegar? O Brasil pode virar, por exemplo, um grande centro como os Estados Unidos? Hoje, os profissionais sofrem algum tipo de assédio dos fãs?

TD: Aqui no Brasil, o poker ainda não tem a dimensão que a gente acredita que vai atingir. Nos Estados Unidos, os jogadores são ídolos nacionais, conhecidos por todo mundo. Aqui ainda não é assim. Não sei se chegaremos ao nível deles, que já é muito avançado. Mas com certeza o Brasil pode se tornar um dos grandes centros do mundo sim.

CPB: Você acredita que pode se tornar um dos grandes jogadores de poker do mundo? Vê algum brasileiro com essa perspectiva?

TD: Sinceramente, não me preocupo com isso. Não tenho essa obsessão. Caio Pimenta, que é um monstro, provavelmente o único jogador realmente diferenciado no Brasil, talvez seja esse cara. Tem muitos caras bons no país, mas ele é diferente. E pensa nisso, busca esse objetivo. O tesão do cara não é grana, é ser o melhor jogador do mundo. E eu acho que ele tem condições de buscar isso. Ele sabe que tem esse talento. Sabe que o caminho dele para ser comparado com Ivey, “durrrr”, Antonius, é possível. Ele quer isso e eu acho legal. É de cada um. Cada um tem seus objetivos. Tem que ter pés no chão, mas ter metas ambiciosas também. Eu não tenho essa obsessão como vejo Pimenta, eu teria que me dedicar muito mais ao poker do que faço atualmente. Meu tesão é jogar poker, não é ser o melhor jogador. Não é isso que norteia minha carreira.

CPB: Quais são os seus planos para a temporada 2011?

TD: Eu não planejo muito a longo prazo, faço isso por cima. Este ano eu não vou para o PCA, até porque é o torneio com o field mais difícil do mundo, é um evento caro, é pesado. Nem joguei satélite para evitar problema. Preferi curtir o verão em Santa Catarina. Mas em 2011 vou viajar muito: jogar EPT, WPT, fazer a temporada inteira da WSOP. E quero voltar com tudo no online, que ainda é muito rentável.

CPB: Com o que você gasta o dinheiro que ganha no poker?

TD: Agora estou começando a investir em imóveis e, junto com Alê Gomes, patrocinamos algumas promessas do poker. Começamos no meio deste ano e estamos vendo com muito bons olhos o investimento em novos talentos do poker. Eu sempre vi meu bankroll como meu fluxo de caixa e não como patrimônio. Logicamente, assim como qualquer empresário, você faz suas retiradas. Já gastei com besteiras, fiz uma extravagância ou outra, mas nunca fiz nenhuma loucura. Assim, não vejo problema. É só não exagerar. Dinheiro não aceita desaforo!

CPB: O que você acha do cash game?

TD: O nível do cash está muito complicado. De dois ou três anos para cá, o field endureceu de uma maneira inexplicável. Nos torneios, isso ainda não aconteceu. Mas eu me dediquei bastante ao estudo do cash game. Fora do Brasil, os torneios têm stacks muito maiores. Em alguns casos, começamos com 30 mil fichas e blinds em 25-50. Tem que saber jogar pós-flop, flop-turn-river. São conceitos do cash game que você joga com muito mais fichas. Usei isso, estudei bastante cash game. Por outro lado, vejo muitas pessoas que só estão lá porque têm muita grana, não ligam muito para o dinheiro, querem diversão. Acho isso honesto, se o cara tem dinheiro, que gaste como quiser. Em Vegas, as pessoas perdem quantias absurdas. É uma linha tênue entre diversão e compulsividade. Cada um que se cuide.

CPB: O poker tem suas “marias-ficha” (ou seria “maria-feltro”?) – mulheres que ficam atrás dos jogadores, assim como as marias-chuteira do futebol?

TD: Eu nunca vi, infelizmente [risos]. Acho que não tem maria-ficha atrás dos jogadores ainda, não. Até por ser um esporte predominantemente masculino, não rola muito essa coisa de pegação em torneio. A gente sempre viaja para lugares legais, tem tempo pra curtir, se divertir, ir para a balada talvez. Mas não vou conseguir sair com uma garota só porque jogo poker, como acontece com muitos caras no futebol [risos].
CPB: Você diminuiu bastante seu ritmo de jogo nos últimos meses, principalmente no poker online. Por que isso aconteceu? Foi proposital?

TD: Depois da WSOP, onde eu jogava valores muito maiores do que na internet, fiquei um pouco desanimado. Lá, todos os dias eu jogava torneio de mil, dois mil dólares. Aí voltei para casa e tive que jogar torneios regulares de 50 dólares. Acho que, mesmo inconscientemente, perdi um pouco a motivação. Mas depois eu me reacostumo. É passageiro. E não tem como evitar. Gosto muito dos dois tipos de jogo, online e ao vivo.

CPB: Nesse final de ano, você lançou um projeto para dar treinamentos junto com o Christian Kruel. Você sempre quis fazer coaching?

TD: Penso nisso desde o meio deste ano. Nunca me atraiu muito, principalmente pela questão financeira. É difícil encontrar um meio termo. É como táxi: é muito para quem paga, mas pouco para quem recebe. Agora fiz uma parceria com o CK, daremos treinamentos em grupo pelo Brasil todo. Além de ajudar nossa imagem, vamos receber um valor interessante. Justo, pelo menos. E sem riscos, já que essa atividade não tem a variância dos torneios. É um valor fixo garantido.

CPB: Você vê boas opções de treinamentos pagos para quem quer evoluir no poker no Brasil?

TD: O Brasil ainda é muito carente de bons coachings. Não é característica do brasileiro buscar conhecimento, e isso vale para todas as áreas. Quem vê o poker como profissão, tem que pensar: quanto um advogado ou um médico gasta para se tornar um profissional capacitado? E, mesmo assim, eles não têm garantia que vão ficar ricos. No poker é igual. A única diferença é que no poker, hoje, o valor do investimento é bem menor. Talvez seja caro para um leigo, que só quer brincar, se divertir, ganhar dos amigos no torneio de terça-feira. Para quem leva o poker como profissão, fazer coaching é primordial. Vários jogadores profissionais muito bons pagam para treinar com caras melhores. Investem um valor muito maior, mas sabem que terão um retorno positivo.

CPB: Um jogador profissional de poker vive altos e baixos. Oferecer coaches é uma saída para os momentos em que a fase no pano é ruim, quando não entram boas premiações na conta?

TD: Eu me especializei em torneios multitable. No cash game e no sit ’n go, a variância é menor. Nos torneios, é difícil manter uma média alta regular. Num mês você ganha um torneio que paga 100 mil dólares, no outro você não ganha nenhum. Mas a média que ganho jogando é muito maior do que ganho com o coaching. Então não acho que um substitua o outro, não.

CPB: Esses treinamentos não atrapalham sua rotina de jogo? Isso não pode se tornar um problema?

TD: Estou fazendo tudo isso de modo que não atrapalhe meu jogo, de maneira que seja uma renda a mais. Só topei fazer porque não vai atrapalhar meu jogo. E o principal aspecto do coaching, do ponto de vista de quem oferece, é que você evolui, melhora seu jogo. Para ensinar, tem que estudar. Então isso me mantém especializado, atualizado.  Só vejo coisas boas.

CPB: Você acha que os coaches podem fazer alguém se tornar um grande jogador de poker?

TD: Só ele, com certeza não. Ajuda muito, mas não faz milagre. Além de coaching, de estudo, precisa ter talento. Ninguém vira Pelé só porque treina e joga bola todo dia. Como em qualquer esporte, no poker também tem o lance do talento. Isso, aliado ao conhecimento, ao treinamento, pode fazer alguém ir longe. Mas é muito subjetivo. O treinamento pode melhorar muito o seu jogo, mas não vai, sozinho, torná-lo o melhor jogador do mundo.




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