EDIÇÃO 42 » MISCELÂNEA

A pátria no pano

Estamos vendo o Brasil se tornar uma potência do poker mundial? Tudo indica que sim.


Pedro Nogueira

A cena foi curiosa. Lá estou eu, na fila do teatro, e, súbito, ouço alguém falar em poker. Por instinto, olhei para os lados, em busca da voz misteriosa. Eis que me deparo com um homem na faixa dos 40 anos, vestindo um terno impecável. Ele estava acompanhado por uma garota bonita, talvez 15 anos mais nova, de vestido vermelho. Não eram casados, pude notar, porque não usavam anéis. Pela elegância exagerada, calculei que aquele fosse o primeiro – ou o segundo – encontro dos dois. A peça em cartaz era Ligações Perigosas, uma adaptação (fraca, depois eu descobriria) do romance francês Les liaisons dangereuses. Livro que, por sinal, rendeu um bom filme, com John Malkovich no papel principal.

Eu dizia que ouvi o sujeito falando em poker. Pois bem. Comecei a prestar atenção na conversa. “Acredita que, ontem, ganhei quase mil reais no poker?”, contava o homem do terno para a garota, sem disfarçar o orgulho. “Num clube ali no Itaim, pertinho do Shopping Iguatemi”. Ela, sorriso largo no rosto, ouvia a história com atenção total e irrestrita. “Jura?”, perguntou. O homem, então, descreveu a jogada maravilhosa e complexa em que limpou dois adversários num só movimento. Impressionada, a garota processava cada palavra do outro como se ele fosse o próprio Dostoievski contando detalhes de um novo livro. E, finalmente, deu o suspiro consagrador: “Poxa!”

Fiz a introdução acima para chegar ao seguinte: o poker está, hoje, na boca do brasileiro. Em cada esquina, em cada boteco, há gente debatendo lances de Texas Hold'em ou, então, de Omaha. É como uma legítima paixão nacional. Eu já disse nesta coluna da CardPlayer Brasil que, em matéria de cartas, o Brasil tem o melhor material humano do mundo. Os números estão aí para provar. Tanto no poker ao vivo quanto no online, nossos atletas estão barbarizando pelo circuito.

Peguemos o caso da World Series of Poker (WSOP), o mais prestigioso dos campeonatos. No ranking de faturamento por países, o Brasil terminou 2010 num belíssimo 11º lugar, com 1,3 milhão de dólares ganhos na série. Algum leitor mais pessimista poderá dizer: “Mas isso é pouco”. Ao que respondo: pelo contrário. Até menos de 10 anos atrás, o poker era um jogo desprezado no Brasil. Só passou a ser tratado como um esporte sério na última década, quando surgiram as estrelas de Kruel, Akkari e Alê Gomes. E, desde então, viramos um fenômeno.

No caso do poker online, então, nossa potência bélica é ainda mais impressionante. O WCOOP (World Championship of Online Poker) do PokerStars desenvolveu uma lista igual à da WSOP. Nela, estamos na 12ª colocação no quesito dinheiro – e no 5º lugar quanto o assunto é braceletes. E empatamos com a Inglaterra, uma nação cuja nobreza do século XVI já jogava baralho. Vejam vocês: enquanto o Brasil era habitado por índios, Henrique VIII se divertia no carteado com suas amantes. Passados 500 anos, brigamos em condições de igualdade, remada por remada, com os ingleses no poker.

Falar em América Latina, então, é uma covardia. No LACOOP, uma série voltada para a região, esmagamos os nossos vizinhos de maneira assombrosa. Nossos ITMs (In The Money, as pessoas que entraram na faixa de premiação) equivaleram, basicamente, às somas de Argentina e México. É fato que os argentinos empataram conosco em títulos – quatro para cada –, mas o Evento Principal veio para cá. Eis a verdade indiscutível, amigos: o brasileiro é um jogador de poker nato e hereditário. Em todo o hemisfério sul, não há uma nação sequer à altura do Brasil. E em breve, muito em breve, breve mesmo, também não haverá no norte.




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