EDIÇÃO 54 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

A japinha atrevida, o australiano malandro e a mesa insana


Jeff Hwang

Quem joga poker há algum tempo entende a importância de manter os maiores stacks, os maníacos e demais jogadores loose à direita. E conhece também as vantagens de ter stacks pequenos e jogadores tight-passivos à esquerda. Essa ideia é tão importante no pot-limit Omaha que, com algumas horas de voo, você aprende a traçar rapidamente o perfil do adversário à sua esquerda e a identificar os maníacos, fazendo os ajustes necessários. Isso pode significar mudar de lugar, ficar mais tight ou simplesmente sair do jogo. Veja por quê.

O Australiano Malandro

Em março do ano passado, eu e meu amigo Aaron fomos ao Aria, em Las Vegas. Escolhemos uma $2-$5 de pot-limit Omaha, que na época tinha buy-in mínimo de US$200 e máximo de US$1.500. Havia quatro jogadores na mesa, com stacks entre $300 e $700, um jogo baratinho para os padrões da cidade. Aaron, um autêntico maníaco, escolheu o assento oito e fez o buy-in do máximo.

Não querendo ficar à direita de Aaron, peguei o assento dois, perto de um sujeito com um stack aparentemente inofensivo de US$700, e também comprei $1.500 em fichas. O stack daquele cara era o maior da mesa, fora o de Aaron, e havia um lugar vago à esquerda dele. Mas quem se senta com $700 em uma mesa $-2$5 de PLO, geralmente não banca o durão.

Se você for bom nesse jogo, tende a entrar com pelo menos $1.000.

Praticamente uma mão depois de nos sentarmos, o jogador à minha esquerda puxou um maço de notas, e agora ele tinha também cerca de 1.500 na mesa. Essa foi a primeira pista.

Comecei a conversar: perguntei de onde ele era. Falando com um sotaque engraçado, ele disse que era da Austrália, que estava ali de férias. Perguntei quanto tempo ele ficaria na cidade, e ele falou que não sabia. Segunda pista.

Perguntei há quanto tempo ele estava em Vegas. Ele disse que desde janeiro.

Estava concluído.



Nessa altura, eu não tinha jogado uma mão sequer, mas já sabia que o cara sentado à minha esquerda era um profissional, pelo menos um quase-maníaco loose-aggressive (LAG). Meu plano era ficar no lugar seis, duas posições à direita de Aaron, que era o menor dos males – pelo menos eu seria o button duas vezes com o short stack ultraconversador à minha esquerda na posição sete.

Ficar quatro posições à esquerda do australiano não era uma opção, levando em conta que costuma ser uma prática ruim abertamente colocar outro profissional como alvo.

Fato é que o malandro australiano se mostrou um parceiro bacana. Ficamos amigos. Quando escrevi esta coluna, meses depois daquele jogo, o cara ainda estava em Las Vegas.

A Japinha Atrevida

Algumas semanas depois, pouco antes do início da WSOP, fui novamente à mesa $2-$5 de PLO no Aria. Agora, o buy-in mínimo era de $400, com máximo de US$1.500. Era pouco mais de meia-noite e havia duas mesas $2-$5 de PLO rolando, ambas com poucos jogadores, mas certamente mais insanos do que no primeiro exemplo. Escolhi a mesa menos pirada.

Eu estava no lugar um. Pouco depois, meu amigo Alex “Ukraine” veio de outra mesa e tomou o assento oito. Alex é meio louco, mas vindo de outro jogo, ele parecia confuso e humilde. Você verá por que em breve.

Cerca de uma hora depois a outra mesa acabou. Uma garota asiática veio e sentou-se à minha esquerda. “Estou vindo da outra mesa. Preciso colocar todo meu stack na mesa?”, foi a primeira coisa que ela disse.

Pista número um: ninguém pergunta se tem que colocar todo o stack, uns $2.000, na mesa, a menos que queira. Nesse instante eu tinha mais ou menos $2.100, mas ninguém tinha muito mais do que $1.000. Pelo jeito, o fish era eu.

Minutos depois veio outro sujeito daquela mesa. Ele pegou o lugar seis, e tinha uma pilha de fichas de $25 e pequenos stacks de fichas de $5. Uns $2.800 no total, provavelmente. E assim nossa mesa ficou.

Na primeira mão depois de eles terem se sentado, eu estava no big blind e postei $5. A japinha postou o straddle no UTG como se não houvesse outra opção. Ela não se incomodou de perguntar se tinha que postar para entrar na mão, mas claramente sabia que não precisava. Essa foi a segunda pista.

Três jogadores entraram de limp. Na mesa hora, o cara novo apostou o valor do pote (US$70). O cara depois dele deu fold. e Alex disse: “Eu aposto o valor do pote”. A moça de olhos puxados disparou $270, e o cara novo a corrigiu: “Não, é US$260”.




Isso tudo aconteceu em menos tempo do que você levou para ler. Não houve contagem para ver qual deveria ser o reraise do tamanho do pote.

Veja bem, eu jogo esse negócio há um bom tempo e não sabia de cabeça que três limpers, um raise do tamanho do pote e um reraise do tamanho do pote em uma mão com straddle era US$260. Então, ou esses dois eram as duas pessoas mais inteligentes do planeta, ou essa mesma situação acontecia em quase toda mão na mesa onde eles estavam. Terceira pista detectada.

De qualquer forma, todo mundo deu fold até a japinha, que deu instacall – a quarta pista. Outro jogador deu call all-in, assim como cara novo.

Havia aproximadamente US$1.100 no pote, e o flop veio com três cartas de paus. A mesa rodou em check.
O turn foi irrelevante, e todo mundo deu check de novo.

No river veio outro tijolo. A moça agora disparou US$315. O cara novo pensou por um tempo e finalmente deu call. Alex deu fold.

A japinha mostrou 10-10-5-3 com um 10-high de paus, e levou o pote. O cara novo deu fold sem mostrar as cartas, levantou e foi embora.

Eu não precisava de mais pistas. Um novo parceiro estava a caminho da cadeira vaga. Eu lhe disse que podia ficar no meu lugar. Quanto a mim? Bem, eu me levantei e fui direto para o lugar que tinha acabado de ficar vago, é claro.

A lição que tiramos disso tudo é que, com um oponente insano à esquerda, você só consegue jogar confortavelmente uma mão por rodada, quando for o button. Por outro lado, se houver dois ou três jogadores muito conservadores na canhota, quem manda e desmanda na mesa é você. E quem é bobo de não querer isso?




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