EDIÇÃO 6 » ESPECIAIS

2007 - Um grande ano para Little

O Sucesso de Jonathan Little nos Torneios o Fez Conquistar o Terceiro Lugar na Corrida pelo Título de Jogador do Ano da Card Player


Shawn Patrick Green

“Little Consegue Outra Grande Colocação” e outros trocadilhos com o nome “Little” (Pequeno) apareceram muitas vezes ao longo de 2007. É certo, contudo, que Jonathan Little, o jovem profissional do poker que tem inspirado tais manchetes, não está nem um pouco cansado de ler essas chamadas.

Jonathan, que fez 23 anos em Dezembro, começou jogando de $5 e cash games de $0,25-$0,50 com seus amigos, enquanto ganhava $10 por hora em seu emprego diurno. Ele agora entra regularmente em sit-and-gos online de $2.000 e torneios ao vivo de $10.000 a $20.000, e sai deles centenas de milhares de dólares mais rico. Ele deu esse grande salto em alguns anos apenas, e 2007 foi o ano de maior sucesso de sua vida (até agora) em relação ao poker. Little começou sua meteórica subida participando da mesa final do PokerStars Caribbean Adventure em janeiro de 2007. Terminou em quinto lugar e foi para a praia com uma sombrinha de papel em seu drink e $318.000 em seu bolso.

Contudo, Little não tinha a intenção de parar por ali. Participou do Evento Principal do Mirage Poker Showdown e entrou em uma difícil mesa final que incluía Phil Ivey, Amnon Filippi, Darrell Dicken, Jon Friedberg e Corey Carroll, ganhando seu maior prêmio até hoje — $1,1 milhão. Essa vitória foi suficiente para inspirá-lo a fazer as malas e se mudar para Las Vegas, a Meca do poker, em uma tentativa de aumentar seus ganhos, que atualmente são de $2,5 milhões.

A Card Player conversou com Little, logo após sua segunda colocação no North American Poker Championship, no Canadá, onde caiu no heads-up decisivo para Scott Clements. Esse resultado praticamente assegurou que ele ficasse entre os três melhores no ranking de Jogador do Ano da Card Player (atrás apenas de David Pham e J.C. Tran). Little participou de nove mesas finais ano passado e ficou a poucos pontos de conquistar um dos títulos mais cobiçados do poker.

Shawn Patrick Green: Você ficou muito bem colocado no North American Poker Championship, nas Cataratas do Niágara. Fale-nos sobre algumas das principais mãos que você jogou.

Jonathan Little:
Bem, eu na verdade não consegui nada com mão nenhuma. Houve uma em que David [Cloutier] entrou de limp, Scott [Clements] completou do small blind, e eu pedi mesa do big blind. Eu tinha 5-4 off, e o flop veio 876, o que me deu uma seqüência. Scott pediu mesa, e eu apostei cerca do tamanho do pote, um pouco menos. Dave desistiu e Scott pagou rapidamente. Então eu achei que ele pudesse ter um par ou um straight draw de algum tipo. O turn foi o 3, então eu ainda tinha a mesma seqüência. Scott pediu mesa e eu apostei 400.000. Ele tinha cerca de 1,6 milhões no total, então era uma aposta muito alta, mas eu queria pressioná-lo para saber se ele tinha um flush draw, pois achei que ele tinha um EV levemente negativo se estivesse com a queda para o flush. Ele pagou, o river foi o K, e ele empurrou o all-in no mesmo instante. Bem, eu tinha quase certeza que ele tinha um flush draw de copas e que estava apenas tentando me tirar da mão, então eu paguei, e ele tinha 106, uma queda para o flush na última carta. Aquela fatiada me custou $2 milhões.

Depois, teve outro pote em que nós três entramos. David tinha perdido algumas mãos e tinha deixado de ser o líder em fichas, com 6 milhões, para cerca de $2 milhões. Eu aumentei do small blind, como vinha fazendo. Ele normalmente apenas pagava, mas dessa vez ficou meio irritado e decidiu ir além. Eu tinha A-10 do mesmo naipe e pensei: “Ele vai jogar com qualquer ás aqui, porque está meio tiltado”. Então, eu acabei pagando, e ele tinha J-9 suited. Eu ganhei aquela mão, e fiquei mano-a-mano com Scott.

SPG: Você começou o ano passado participando da mesa final do PokerStars Caribbean Adventure (PCA). Você já imaginava que aquele seria um ano diferente e maravilhoso para você?

JL:
Eu não tinha idéia de que seria tão bom. Antes do PCA, eu passei um ano inteiro sem ganhar nada. Eu devia $250.000, o que era muito dinheiro para mim: é muito dinheiro para qualquer um. Estava ficando muito nervoso, mas acabei ficando em quinto lugar naquele evento, o que foi ótimo. Realmente não esperava mais nada, e na verdade não fiz mais nada antes de ganhar um torneio de $3.000 no Bellagio, contra J.C. Tran, e pensei: “Hmm... eu estou mesmo ficando bom nisso”.

Sinceramente não achava que fosse ser um bom ano de jeito nenhum. Eu pensei que isso tinha sido um golpe aleatório de sorte, entende?

SPG: Sua maior conquista até hoje foi o Mirage Poker Showdown 2007, levando quase $1,1 milhões. Como sua vida mudou depois disso?

JL:
Bem, as coisas não mudaram muito. Eu me mudei para Vegas. Estava alugando uma casa com um monte de caras durante o verão — para o World Series of Poker, o Bellagio Cup, o Mirage Poker Showdown e o Mandalay Bay Poker Championship — e já tinha meio que decidido antes de viajar para lá que, se eu por acaso me desse bem e faturasse algo significante, iria provavelmente me mudar para Vegas. Eu vivia em Pensacola, Flórida, que não é o melhor lugar para um jogador de poker profissional, pois você tem que voar para todos os lados para jogar qualquer coisa.

SPG: Suas metas no poker mudaram com esse resultado?

JL:
Bem, certamente. Depois que ganhei aquele torneio, pensei “Essa provavelmente será a minha maior realização no poker”. E isso pode ser verdade, pois a maioria das pessoas nunca ganha um título do World Poker Tour. Eu acho que não estava esperando me dar bem em nada mais, e estaria satisfeito se tivesse acontecido dessa maneira. Mas hoje minhas metas são ganhar outro evento do WPT, é claro, e tentar conquistar um título de Jogador do Ano da Card Player.

Também gostaria de ganhar um bracelete do World Series. Eu nunca tive muito sucesso no World Series. Acho que sei jogar melhor contra os jogadores muito confiantes que você vê nos eventos do WPT. No World Series of Poker, algumas pessoas realmente não fazem idéia de como jogar, e acho que realmente não sei jogar com pessoas que não sabem exatamente o que estão fazendo. Mas espero me dar melhor na próxima Série Mundial.

SPG: Explique-nos como você subiu nos rankings online.

JL:
Eu queria melhorar, então comecei a estudar livros de poker — principalmente as coisas que [David] Sklansky escreveu, o que foi provavelmente a melhor coisa que eu fiz — e os fóruns. Sem isso, definitivamente não estaria onde estou hoje. Eu simplesmente gasto muito tempo aprendendo o jogo: eu já li talvez uns 80 livros de poker, e todos eles me ajudaram.

Eu comecei jogando limit hold’em, pois era basicamente o que os primeiros livros que eu li abordavam. Eu li o Theory of Poker, Small Stakes Hold’em e Hold’em for Advanced Players [de Sklansky]. Então, eu jogava limit e subi para $15-$30 no PartyPoker, mas não conseguia ganhar $30-$60 nem para salvar minha vida, que eu acho que era o maior limite do PartyPoker há cerca de três anos atrás.

Então um dia eu decidi jogar, do nada, alguns sit-and-go´s. Eu me dava muito bem: ganhei uns $10.000 em uma semana, ou algo ridículo assim, mas acabei perdendo boa parte. Comecei a regredir e jogar sits de $10, para praticar, pois estava com minhas contas pagas por um período, e não precisava me estressar por dinheiro. Eu decidi jogar 1.000 partidas em cada nível de buy-in. Batalhei até chegar nas mesas de $100, e então cheguei às de $200 e jamais olhei para trás. Eu estava ganhando um dinheiro decente todo mês e estava feliz. Aquilo me garantiria dinheiro suficiente para jogar no circuito de torneios ao vivo quando completasse 21 anos.

SPG: Como foi sua transição do online para o live?

JL:
Bem, como eu disse, no primeiro ano inteiro não ganhei nada. Então, acho que aprendi através de tentativa e erro, que é geralmente a maneira mais cara de se aprender qualquer coisa no poker. Eu acho que, quando comecei, jogava torneios exatamente da mesma maneira que sit-and-go´s, que é muito, muito tight, e não é assim que se deve fazer.

O primeiro torneio ao vivo que eu joguei foi um evento de $500 em Túnica, Mississippi, e acabei em 23º dentre 3.000 participantes. Era uma grande competição: acho que foi a maior de todas na época, tirando um evento do World Series. Depois disso, pensei: “Cara, isso vai ser muito fácil”. E então consegui perder tudo que tinha ganhado durante o ano inteiro. Pensei: “Cara, talvez eu seja ruim nisso”. Mas pratiquei muito online. Fiquei em segundo no Sunday Million do PokerStars pouco antes do World Series dois anos atrás. Se não tivesse conseguido isso, talvez eu não tivesse sequer jogado no WSOP aquele ano.

Você deve simplesmente se sentar lá e prestar atenção. Para muitos que jogam online é difícil sentar-se lá e prestar atenção, pois eles estão acostumados a ter 12 mesas para prestar atenção, enquanto ao vivo você tem apenas uma mesa, e tudo acontece muito devagar. É preciso aprender a se concentrar e, quando consegue isso, tudo se torna mais fácil

SPG: Você gerencia um site com vídeos de treinamento chamado SNGIcons.com, voltado para sit-and-go. Existe alguma maneira específica de se jogar essas mesas, especialmente com limites baixos, que garanta lucros a longo prazo?

JL:
Sim, você deve simplesmente jogar muito tight no começo e muito, muito loose no final, quando os blinds ficam altos.

SPG: Quais são os maiores erros que você vê muitos jogadores de sit cometerem?

JL:
Muitos deles acabam jogando loose demais nos níveis iniciais do jogo porque pensam: “Eu tenho 50 blinds, então posso me dar ao luxo de perder alguns”. No poker, você não pode se dar ao luxo de perder nada. É preciso tentar manter todas as fichas que você tem. Eles também jogam muito tight no final. Pensam: “Se eu jogar tight passo aperto, mas posso ganhar dinheiro”. Geralmente, essa não é a maneira correta de se pensar. Você precisa pensar: “Esses outros caras estão jogando muito tight para tentar ganhar dinheiro, então eu vou tentar roubar todas as fichas deles”. Nos sit-and-go´s de limites baixos, você ficaria surpreso com a freqüência com que se fica contra apenas dois oponentes e uma vantagem de fichas de 7-para-1 em relação a eles.

SPG: Que tipo de bankroll você precisa e que porcentagem de ROI [retorno de investimento] é realista?

JL:
Bem, depende do buy-in. Nos mais caros, como os sits de $2.000, você pode ter um ROI de 2%, mas também conseguir coisas como rakeback ou frequent player points (FPP), o que aumenta muito os ganhos. Quando eu jogava no PartyPoker, a metade de meu dinheiro vinha do rakeback, simplesmente porque eu pagava muito rake dos sit-and-gos.

Nas mesas mais baratas, pode-se conseguir um ROI de 10% ou 15%, e essa é uma excelente percentagem. Digamos que você jogue sits de $10. Provavelmente precisa de 100 buy-ins, então digamos que você tenha $1.000: se você jogar 3.000 mesas por mês, ganhará $3.000. Se faturar cerca de $1 por partida, terá quadruplicado seu bankroll em apenas um mês de jogo.

Cem buy-ins geralmente é suficiente se você tem um ROI de 10%. Nas mesas mais caras, se você tiver um ROI de apenas 2%, terá muitos altos e baixos, então precisaria de mais ou menos 300 buy-ins.

SPG: Quem é o profissional dos torneios ao vivo que mais ganhou seu respeito no circuito?

JL:
Eu respeito quase todos os caras que são calmos e não emotivos, como Phil Ivey e Barry Greenstein, e alguns dos jovens, como Shannon Shorr e Scott Clements. Eles não se levantam e gritam como maníacos quando ganham uma mão, e isso apenas mostra que eles têm a estabilidade emocional necessária para não se aborrecer quando perdem.

Eles também não entram no que eu chamo de “happy tilt” quando ganham. Não ganham uma mão e de repente passam a achar que podem ganhar todas as outras durante o resto do torneio. Eu vejo muitos jogadores fazendo isso: quando ganham uma grande mão e depois outra, acham que são invencíveis, e então tiltam e perdem todas as fichas que ganharam.

SPG: Em condições ideais, onde você acabaria sua vida, e qual é o papel do poker nela?

JL:
O poker basicamente é minha vida. Eu passo o tempo viajando e jogando. Eu ainda gosto do jogo, e, enquanto gostar, continuarei jogando. Isso meio que se torna um trabalho às vezes, e faz com que você não aproveite tanto. É importante gostar do que se faz, embora você tenha que saber que se trata de seu trabalho, e que é preciso cumprir horas, quer queira quer não.

Eu acho que jogarei poker... acho que enquanto eu quiser. Estou tentando conseguir dinheiro suficiente para poder me aposentar quando quiser, e eu acho que, quando chegar nesse ponto, estarei contente com o que eu quiser fazer. Acredito que tomarei essa decisão quando chegar a hora.




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