EDIÇÃO 9 » ESPECIAIS

Patrik Antonius: Caçador de Grandes Jogos

O coração da nova geração do Poker


Craig Trapscott

Seja num cash game de high-stakes ou lutando por um título em um campeonato mundial, Patrik Antonius é uma presença poderosa na mesa de poker. Ele se senta com postura de soldado. Então, como uma pantera negra seguindo presas desavisadas, ele tranqüilamente coloca fichas no pote — sempre tentando decifrar cada situação, independentemente do valor de suas cartas. Pronto para atacar, pronto para armar uma cilada, ele mostra grande habilidade e na maioria das vezes ganha potes gigantescos.

Apesar disso, Antonius ainda não possui um bracelete de ouro, embora tenha chegado perto ao ficar em terceiro lugar no campeonato de pot-limit Omaha de $10.000 no World Series of Poker 2007. Contudo, seus colegas de profissão o consideram um dos melhores jogadores do mundo. Por quê?
Simples. Antonius continua a ser um dos vencedores mais consistentes nos maiores cash games do mundo, ao vivo e online. Muitos egos do poker contam seus pontos com base no tilintar dos braceletes e nos títulos de grandes torneios. Mas os caçadores de grandes jogos marcam o placar levando em conta o que realmente importa: dinheiro vivo.

O dinheiro é quem manda. O acúmulo e o desmoronamento de altos montantes de dinheiro vivo no feltro atraem mais curiosos do que os que se agregam ao redor de um acidente envolvendo dez automóveis. O fascínio do público diante do High Stakes Poker da GSN, do qual Antonius participa regularmente, prova isso. Com apenas 27 anos, como foi que ele passou a fazer parte de uma posição tão admirável, jogando por milhões de dólares e sendo mencionado na mesma categoria de Brunson, Ivey, Greenstein e Reese? A explicação de Antonius é simples e direta: “Ética profissional”.

A chave para a transformação de Antonius em um dos mais temíveis adversários do poker é uma dedicação tenaz com o intuito de desenvolver tanto sua mente quanto seu corpo. Desde seus primeiros dias no jogo, ele abordou o poker como um atleta treinando com vistas ao ouro olímpico. Disciplina, paciência e foco: essas são as virtudes que elevaram sua vida além de seu humilde início em Helsinki, Finlândia.

“Minha família era pobre”, afirmou Antonius. “Você aprende que apenas o trabalho árduo traz resultados. Aprende a ter disciplina quando treina como um atleta desde muito jovem. Também é preciso ter muita humildade e respeito. E deve ainda aprender a perder de forma elegante”.

Desde a infância, qualquer espécie de derrota impulsionava Antonius a batalhar mais arduamente e aprender mais. Quando adolescente, o tênis era seu jogo, e a carreira que pretendia seguir. Todos os dias depois da aula, ele corria para o clube para treinar. Mas em muitas tardes, depois do tênis, um jogo de five-card stud começava, e, aos 14 anos, ele se via ganhando ou perdendo $50 por dia e se divertindo como nunca.

Depois de se formar, Antonius sofreu uma séria contusão nas costas, o que destruiu seus sonhos de seguir uma carreira no tênis. O poker se tornou uma obsessão ao longo dos anos seguintes, um jogo que ele jurou dominar. Seu apetite era estimulado à medida que ele subia de limites, construindo um bankroll com agressividade pura e uma intuição quase clarividente.

Patrik entraria no cenário dos torneios internacionais em 2005, com ganhos no Ladbrokes Scandinavian Poker Championships e no EPT Baden Classic. Ao final daquele ano, ele acabaria em segundo lugar, levando mais de $1 milhão, no World Poker Tour Five-Diamond World Poker Classic, em uma mesa repleta de estrelas que incluía Doyle Brunson, Phil Laak, J.J. Liu, Darrell “Gigabet” Dicken e o eventual ganhador Rehne Pedersen. Antonius perdeu o campeonato por uma carta, mas o mundo ouviria falar muito mais do talentoso finlandês.

Nos dois últimos anos, Antonius se tornou assíduo no “grande jogo” do Bellagio. Embora sua experiência se resumisse a pot-limit Omaha e limit e no-limit hold’em, seu talento inato se mostrou o mesmo em todas as variantes de que tomou parte.

“Patrik é um jogador feroz”, comentou Barry Greenstein. “Seus resultados demonstram claramente que a habilidade ao apostar é muito mais importante do que seleção de mãos, o que permitiu a ele se manter firme diante dos maiores jogadores do mundo. Isso fez com que ganhasse tempo e aprendesse o lado técnico das várias formas de poker que jogamos no Grande Jogo”.

Mas no ano passado Antonius sofreu, online e ao vivo. Ele caiu na espiral da montanha-russa da variância pela primeira vez, experimentando vários meses seguidos de derrotas. Ele se encontrava no lado obscuro da sorte, contraindo maus empréstimos, perdendo dinheiro financiando uma horda de jogadores e lidando com o estresse diário de ter tido uma filha, Maya, com sua noiva. Mas ele nunca duvidou de seu talento ou de seu feroz e competitivo coração, que bate um pouco mais forte quando tudo está alinhado.

Antonius convidou a Card Player a assistir suas performances ao vivo no “grande jogo” durante o WSOP 2007, bem como as online enquanto ele relaxava no escritório de sua casa em Las Vegas. A conversa continuou ao longo do outono e terminou em uma limusine no dia do seu aniversário de 27 anos, a caminho do evento principal do WPT Five-Diamond World Poker Classic.

Craig Tapscott: Você teve um ano insano. Surgiram rumores de que você estava tendo maus momentos nas partidas de high-stakes online e ao vivo.
Patrik Antonius:
Eu perdi muito dinheiro depois que minha filha nasceu, e um pouco antes também. Joguei poker durante três anos e meio seguidos sem jamais ter tido meses de prejuízo. Eu simplesmente botava muita pressão sobre mim.

CT: As coisas mudaram depois que sua filha nasceu?
PA:
Eu estou muito feliz agora, essa é a diferença. Meu maior medo era ter uma criança que não fosse saudável. Mila Jolie é perfeita, linda.

CT: Quando as coisas começaram a melhorar para você?
PA:
No final do último verão. No outono passado eu viajei muito pela Europa, joguei online e me dei extremamente bem — melhor do que eu poderia imaginar. Eu também comecei a mudar quando decidi mudar minha família para Mônaco. Vou passar metade do ano lá e a outra metade nos EUA.

CT: O que você aprendeu durante seu período difícil no ano passado?
PA:
Aprendi a prestar atenção em coisas que são mais importantes do que o poker: minha filha, minha noiva e aproveitar a vida.

CT: Vamos falar sobre seu começo no poker.
PA:
Em nossos jogos caseiros, eu comecei a ganhar muito de meus amigos; eu levava todo o dinheiro (rindo). Então comecei a viajar para os cassinos para aprender. Nunca tinha lido nenhum livro de poker. Isso foi em 2002.

CT: Você continuou na escola?
PA:
Eu fui para a Itália estudar em uma escola politécnica durante três meses. Gastava muito do meu bankroll com despesas e não joguei poker durante os três meses de curso. Foi quando um amigo meu (conhecido online como “Zigmund”) me apresentou o poker online. Eu investi $200 em um site e comecei a jogar pot-limit Omaha de $1-$2. Transformei o investimento inicial em $20.000 em dois meses. Foi aí que decidi me tornar um jogador de poker profissional.

CT: Por que você acha que se deu tão bem online desde o princípio?
PA:
Bem, eu ainda não sabia jogar tão bem, mas as outras pessoas eram muito piores. Eu jogava com uma agressividade tão exagerada no começo que acabou me ajudando a aprender o jogo.

CT: Como assim?
PA:
Se você aprender a jogar tight, esse é seu jogo. Então torna-se difícil aprender a ajustar seu estilo e ficar mais loose e começar a jogar com mãos “ruins”. Se você for um jogador muito loose, precisa apenas jogar com mãos iniciais melhores. Eu aprendi a me ajustar e também não blefava muito. Foi assim que evoluí.

CT: Você pode dividir conosco seu processo de evolução?
PA:
É melhor que você aprenda tudo sozinho. Trabalhar a memória foi fundamental, pois eu sempre jogo contra as mesmas pessoas na maioria das vezes. Isso funciona melhor em no-limit hold’em e pot-limit Omaha. Eu pensava: “Da próxima vez, se eu fizer coisas assim, como apostar com esse tipo de bordo, ele vai achar que eu não tenho nada. Eu vou apostar pouco, dar check-call no flop e apostar no turn, pois ele irá blefar contra mim sem nada”.

CT: Você abordou o jogo com a disciplina de um atleta, sempre trabalhando em suas fraquezas e acentuando suas habilidades.
PA:
Foi assim que eu construí as bases de meu estilo, jogando 14 horas por dia, sete dias por semana. Eu jogava todo dia online e ao vivo. O ano de 2003 foi um ano crucial pra mim.

CT: O que mais foi preciso modificar para lhe permitir competir com jogadores mais experientes?
PA:
Eu comecei a pensar mais sobre o jogo e percebi o que o poker realmente é. Se eu tivesse jogado no-limit hold’em desde o início, teria chegado a esse ponto mais cedo, e começaria a pensar com mais criatividade — porque, em no-limit, você tem que ganhar dinheiro sem as cartas, em minha opinião.

CT: Quando foi sua primeira viagem aos Estados Unidos?
PA:
Em 2003, eu viajei para Danville, Virginia, para jogar tênis para um amigo diretor de esportes finlandês e também para aprender inglês e estudar. Quando fui para lá, eu sabia que me tornaria um jogador de poker. Certos dias eu ia à sala dos computadores e jogava online algumas horas. Ganhava nove de cada dez vezes que jogava, na maioria limit de $50-$100 e pot-limit Omaha de $15-$25.

CT: Por que você acha que seu jogo melhorou tão depressa?
PA:
Eis o que eu fiz. Há muito tempo, os melhores jogadores online tinham de jogar em limites muito baixos, pois os maiores jogos disponíveis eram de limit hold’em de $30-$60 e $50-$100. Isso me permitiu jogar com os melhores. Eu jogava apenas porque queria aprender o modo como eles me venciam. Então, de repente, comecei a derrotá-los. Eu tinha aprendido como eles jogavam. Foi uma aula barata, eu acho. Hoje em dia, se você quiser jogar contra os melhores jogadores, tem que jogar $1.000-$2.000. Isso torna o aprendizado muito mais caro.

CT: Quando você passou a se dedicar a torneios?
PA:
Eu jogava torneios principalmente para curtir férias e viajar para um local quente e sair da Finlândia. Em janeiro de 2005 fui para as Bahamas, para meu segundo WPT PokerStars Caribbean Adventure. Eu fiquei na 12ª colocação.

CT: Você acha que seu passado atlético lhe beneficiou?
PA:
Se você está em boa forma, é óbvio que o mental e o físico andam de mãos dadas.

CT: Essa é uma clara vantagem para você, especialmente durante dias de torneios longos.
PA:
Sim. Posso dizer que me considero a nova geração de um poker de jogadores jovens e atléticos. Se você estiver em excelente forma, pode se manter concentrado o tempo todo. O poker é um jogo mental. Eu descobri que quanto mais em forma estou, mais forte são minhas percepções e instintos. Eu acredito que seja possível desenvolver seus instintos se prestar atenção. Você percebe muita coisa quando está consciente e desperto. Eu sempre tive feelings muito fortes, mas precisei de dois anos para saber o que eles significavam e como interpretá-los.

CT: O que você acha do crescimento do poker na Europa?
PA:
O poker é muito popular em toda a Europa. As pessoas querem viajar, e todos aqueles torneios ocorrem em lugares lindos. Lá existe uma comunidade de poker diferente. Eu a considero muito agradável e amigável, e a média de idade no tour é de 24 anos. Gus Hansen é o ancião, assim como Doyle Brunson nos EUA (rindo).

CT: Sua primeira grande realização nos EUA veio durante o WPT Five-Diamond World Poker Classic em 2005. Algumas pessoas acharam que você foi grosseiro com Doyle Brunson durante uma mão.
PA:
Fico feliz de poder esclarecer isso. Quando eu assisti depois, fiquei muito envergonhado, e meu inglês não era muito bom à época. A questão é: eu estava tão chocado e surpreso com o modo como ele tinha jogado essa mão em particular. Eu também estava meio bêbado. Não estava assim quando iniciamos a mesa final, mas eles continuavam me servindo gim e tônica o tempo inteiro. Eu jamais tive a intenção de dizer algo desrespeitoso a Doyle.

CT: Falando do Sr. Brunson, eu ouvi uma citação de Doyle em algum lugar: “Eu nadaria atravessando um rio para jogar com Patrik Antonius”.
PA:
Eu não sei de onde saiu isso (rindo), pois ele nunca quer jogar heads-ups comigo na Bobby’s Room, então não sei do que ele está falando. Mas, se Doyle quisesse, estaria pronto para jogar com ele em qualquer variante, por qualquer quantia de dinheiro. Doyle é uma lenda e eu tenho um tremendo respeito por ele. É apenas um desafio que eu estou propondo.

CT: Você entrou de cabeça na rotatividade de jogos do Bellagio.
PA:
Quando eu comecei, achava apenas que era bom em pot-limit Omaha e em no-limit e limit hold’em. Mas nós jogávamos cerca de 15 modalidades às vezes. Comecei com Omaha eight-or-better de $2.000-$4.000 e stud games, triple draw, deuce-to-seven e outras que eu simplesmente jamais tinha jogado. Algumas das variantes eu desconhecia até as regras. Aprendia jogando. Acho que, se você realmente quer aprender, deve jogar com as melhores pessoas e se lembrar das mãos delas e de como elas foram jogadas. Surpreendentemente, eu não tenho mais uma modalidade preferida.

CT: Você tem alguma estratégia particular no “Grande Jogo”?
PA:
Sou meio tight-solid, mas definitivamente prefiro quando tem poucos participantes. Com muita gente, eu me entedio facilmente. Certa vez, consegui perder uma tonelada de dinheiro em apenas uma hora e meia em uma sessão do Grande Jogo. Foi quando o teto máximo estava em $150.000 para cada pote. Eu perdia todas as mãos não importava o que tivesse. Alguns jogadores dirão que eu tive azar. Eu não sei o que dizer.

CT: Você já sofreu um tilt sério?
PA:
Alguns anos atrás, as partidas eram mais fáceis. Eu jamais perdia durante mais de dois dias seguidos, então nunca ficava em um estado mental prejudicial. Na primavera passada e no começo do verão, a situação era diferente. Olhe para aquela parede. [No escritório de Patrik]. Você pode ver os danos causados por meus punhos, juntamente com alguns mouses quebrados. Eu quebrei meu teclado uma vez. Isso não é normal. Não para mim. Eu precisava relaxar. Levei tudo muito a sério quando várias coisas deram errado ao mesmo tempo ano passado. Mesmo assim, a confiança em meu jogo sempre esteve presente, apesar de tudo. Eu acho que sou um dos maiores jogadores e posso competir com qualquer um.

CT: Para você, como o jogo mudou ao longo dos últimos anos?
PA:
Os jogadores são muito bons hoje em dia. Eu melhorei muito depressa há alguns anos, mas ainda estou trabalhando em meu jogo. Eu sei que posso subir alguns níveis, mas não preciso fazer isso, pois, contra a maioria dos jogadores, seria muito para o momento. Tenho jogado um poker bem direcionado para meu estilo. Eu não preciso fazer muito esforço extra, pois as pessoas entregam o dinheiro delas.

CT: Que elementos as pessoas precisam dominar para se tornarem grandes jogadores?
PA:
É muito difícil quando não se tem experiência com matemática ou apostas. Você precisa saber suas odds e ser um indivíduo competitivo. E deve amar o jogo, ter verdadeira paixão por ele. E muitos jogadores não têm a mente aberta. Acima de tudo, é preciso aprender a se colocar na mente do adversário. Esse é um aspecto muito importante.

CT: É uma escolha consciente da sua parte ser tão quieto e equilibrado na mesa?
PA:
A questão é: muitas vezes eu não faço idéia de como proceder diante de uma situação. Eu preciso de tempo para pensar a respeito e sentir o que está se passando, mas 95% das vezes eu sei o que fazer nos primeiros quatro segundos. Eu levo a mesma quantidade de tempo em todas as mãos. Muitas vezes eu sei o que devo fazer, mas tenho uma sensação enquanto mexo em minhas fichas, e percebo melhor o que está acontecendo. Se eu me apressar, perco essa percepção.

CT: Você tem metas de ganhar o Main Event ou muitos braceletes?
PA:
Seria legal ter todos os títulos, mas eu não jogo em torneios pelo dinheiro; é mais pela honra que eu almejo obter. Quero ganhar um torneio muito respeitado, como o evento H.O.R.S.E., ou um evento com muitos competidores e que conte com melhores do mundo. Eu ainda tenho objetivos em cash games. Considero o High Stakes Poker da GSN o melhor programa de poker. Quero ser lembrado como um dos melhores jogadores de cash games, não como um jogador que venceu alguns torneios.

CT: O que o futuro reserva para Patrik Antonius?
PA:
O poker está no meu sangue. Eu jogarei enquanto amar fazer isso: é uma questão de competição. Mais uma vez, me sinto sortudo e sou feliz por ter esse dom. Prometi doar 20% de meus ganhos em torneios para a caridade esse ano. Mas o principal que eu quero para minha vida é aproveitar minha família e ter saúde. Eu levo o poker muito a sério às vezes. Minha nova empreitada é o golfe. Eu tendo a ser perfeccionista. Sei que, se dedicar tempo ao golfe, melhorarei depressa. Tudo que eu sei é que não quero ser um perdedor no golfe, especialmente para Phil Ivey (rindo).




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