EDIÇÃO 9 » COLUNA NACIONAL

Blefe


Raul Oliveira

Desta vez vou falar sobre a maior arte do poker: o blefe. Nada mais lindo para um jogador do que passar aquele blefe com 6 high em que não entrou nossa seqüência e foi preciso improvisar, ou ainda aquele no qual estávamos, desde o flop, decididos sobre o que fazer e só no river deu certo.

Para um leigo, o blefe pode ser apenas “apostar fingindo ter cartas boas”. Porém, para um profissional, tudo se baseia na leitura da mão do adversário, não importando suas próprias cartas, mas sim se é possível fazer o adversário largar as dele.

Apesar de ter um único significado, o blefe pode ser aplicado de diversas formas. Vamos a alguns tipos clássicos:

Raise de blefe
Acontece quando, após alguma aposta, você volta raise ou reraise com uma mão fraca. Isso pode acontecer em todos os rounds de uma mão, mas normalmente ocorre pré-flop e no flop.

Claro, quando falo em blefe pré-flop estou querendo dizer que o jogador tenta levar o pote com mãos que normalmente não jogaria. Por exemplo, alguém abre raise no final de um torneio e você decide voltar all-in com 7-6 off. Nesse caso, você não está confiando no seu jogo, mas no fold do adversário, o que, obviamente, é sempre o intuito de quem blefa.

Quanto ao blefe pré-flop, além de acontecer em torneios, quando os blinds estão caros, eles ocorrem em cash games com poucos jogadores na mesa, os quais normalmente estão em posição (falando por último) e dão raises ou reraises com mãos fracas, no intuito de levar o pote sem mostrar suas cartas.
No flop também acontece bastante. Como a mão geralmente ainda está barata a essa altura, o blefe não requer muitas fichas, e por isso é muito utilizado – flops com ás, par virado, três cartas do mesmo naipe ou conectadas costumam funcionar melhor.

Raise de blefe no turn são mais raros, mas costumam ter uma força muito grande quando executados. O problema, tanto aqui quanto no river, é que ambos custam muito caro, já que normalmente as bets do turn (e mais ainda do river) são bem altas. Além disso, as odds para os adversários dificultam que eles larguem as mãos.

Blefe no river
Em geral, acontece quando alguém está para algum tipo de queda que não entra e seu único recurso para levar o pote é blefar. Tendem a ser blefes caros, considerando que, no river, a maioria dos potes já está bem alto – para aplicá-los, é preciso coragem e, claro, uma boa leitura de que é possível tirar seu adversário da mão.

Semi-blefe
Com certeza, esse é o mais fácil de ser realizado, pois traz alguma segurança para quem o executa. Chamamos de “semi-blefe” a aposta feita quando não se tem nenhum jogo formado ainda, mas cuja chance de completá-lo é grande.

Um caso clássico é a queda de flush. Por exemplo, você está num torneio, recebe A3 e o flop traz KQ4. Seu adversário faz uma aposta forte e você volta all-in. Apesar de não ter nenhum jogo pronto, sua chance de levar a mão é boa, já que você pode ganhar tanto se o oponente der fold quanto call, caso em que passa a ser necessário virar seu flush.

Call-blefe
Comumente, esse blefe só é aplicado por bons jogadores, e consiste em pagar a aposta do seu adversário sem ter nada, apenas contando com o fato de que ele não vai apostar na próxima rodada e você levará a mão com uma bet. Para realizá-lo, é preciso estar em posição.

O call-blefe deve ser executado apenas na bet do flop, já que o intuito é arriscar pouco. Outro fator importante é a análise do bordo: esse tipo tende a funcionar melhor em flops mais “perigosos” (aqueles que já permitem a formação de mãos fortes – novamente, os que apresentam par virado, ou três cartas do mesmo naipe ou conectadas). Nessa situação, quando o flop tiver sido ruim para o seu adversário, o call-blefe vai funcionar quase sempre.

Agora, dois aspectos são fundamentais quando falamos de blefes. Primeiro, como sempre, a variante mais importante do poker: seu adversário (“contra quem” você está blefando). Repare que, ao passo que ler os oponentes mais fracos torna-se mais fácil, fazê-los jogar fora suas mãos fica bem mais difícil. Dessa forma, só blefe contra adversários menos habilidosos quando sua leitura indicar que ele tem uma mão muito fraca. Já contra bons jogadores, fazer com que joguem fora suas mãos é bem menos complicado, mas fica bem mais difícil realizar uma leitura apurada. Assim, quando for blefar contra um bom jogador, pense em como jogaria se tivesse uma mão verdadeiramente forte naquele instante e jogue de acordo com isso, pois, se você transmitir essa leitura para ele, o blefe irá funcionar.

O segundo aspecto a ser considerado – que também é bastante importante – é reparar que o custo-benefício do blefe geralmente não é bom. Desse modo, só deve ser executado quando, aos olhos do blefador, tiver grandes chances de sucesso. Explicando melhor: toda vez que você blefa, sua expectativa de vitória diz respeito apenas ao pote, logo, seria como uma aposta sem valor (toda vez que alguém pagar, você perde). Portanto, não saia blefando como um maníaco – o resultado dessa estratégia é desastroso. Por outro lado, deixar de blefar torna seu jogo previsível, e seus ganhos quando realmente tiver uma mão boa serão minimizados. Então, tente encontrar um ponto de equilíbrio e, quando for blefar, não hesite.

Eu sempre procuro entender melhor por que o hold´em exerce tanto fascínio sobre as pessoas, e não tenho dúvida de que o blefe tem grande parcela nisso.




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