EDIÇÃO 9 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Lendo Níveis de Pensamento

Prevendo como os oponentes irão jogar


Barry Tanenbaum

À medida que você se tornar mais sofisticado, uma de suas tarefas será ler as habilidades de seus oponentes. É um erro comum presumir que todo mundo pensa como você. Por exemplo, se você aumenta e um oponente paga, você pode achar que ele tem determinada categoria de mãos com as quais você pagaria. Pode não passar pela sua mente que o oponente não pensa da mesma maneira que você, e que ele pode ter uma mão consideravelmente mais fraca do que a que você teria.

Esse “pensar mais baixo” requer que você compreenda os vários raciocínios que um oponente pode ter, e decida qual deles é mais provável. Eis um exemplo com o qual me deparei recentemente:

Eu tinha J10 no big blind e consegui uma carta grátis contra quatro oponentes. Minha primeira decisão foi se eu devia pedir mesa ou aumentar. Essa é uma boa mão para se dar raise, pois mantém os oponentes desequilibrados e ajuda a construir um pote que fornecerá odds favoráveis mais tarde, caso eu consiga um draw com o flop.

Em geral, gosto de enfrentar cinco ou mais oponentes ao executar esse aumento. Eu posso fazer isso contra menos adversários, se for preciso explorar ou mudar minha imagem atual, mas essa mão ocorreu na primeira hora, e não havia razão que me convencesse a modificar meu jogo atual.

O flop: Depois que eu pedi mesa, o flop veio J 8 5. Eu tinha o top pair, um kicker marginal e péssima posição. Eu deveria pedir mesa ou apostar? O flop oferecia muitos draws em potencial. Nada que eu fizesse afetaria os flush draws e as duas pontas para a seqüência, mas havia um número decente de mãos que teriam quedas para a gaveta, incluindo Q-10 e Q-9. Obviamente, com duas cartas do mesmo naipe, flushes na última carta também eram possíveis. Além disso, minha mão era vulnerável a overcards.

Tais considerações indicavam que eu deveria tentar eliminar oponentes. Como ninguém tinha aumentado pré-flop, eu não fazia idéia de quem poderia apostar. Os jogadores nas posições finais apostam com mais freqüência, então eu pedi mesa, na esperança de que um deles tomasse a iniciativa e eu pudesse fazer um check-raise para proteger minha mão.

Em vez disso, um jogador em posição central, que parecia muito loose, apostou; e outro, em posição final, aumentou. Eu tinha boas justificativas para desistir, aumentar e mesmo pagar. Se mais alguém tivesse um valete, eu provavelmente teria problemas com meu kicker. Eu tinha uma queda para seqüência na última carta, mas que não era convincente em um bordo com duas cartas de mesmo naipe. Porém, o jogador loose poderia estar apostando praticamente com qualquer mão, e o que deu raise poderia facilmente ter um draw e estar apenas tentando uma carta grátis ou apostando pelo valor. Dar call não me ajudaria a descobrir nada, e permitiria que o jogador loose visse o turn pagando apenas uma bet a mais. Não estava claro que eu estava derrotado, então eu voltei um reraise para tentar fazer com que o oponente loose desistisse e eu tomasse as rédeas da mão.

Isso funcionou parcialmente, pois o loose desistiu, mas o da posição final voltou outro reraise. Agora eu tinha que decidir que tipo de jogador ele era. Ele contra-atacaria com um draw? Ele tinha uma mão muito forte?

Novatos aumentariam aqui com uma mão enorme. Jogadores medianos pagariam no flop com uma mão grande, agora que estávamos mano a mano, e esperariam que eu apostasse no turn para então aumentar. Primeiro, porque desejam coletar uma aposta dupla; segundo, porque temem que eu possa ter um draw e eles querem ver a carta do turn. Então, se dão raise, quase sempre têm um draw ou uma mão relativamente fraca. Jogadores mais sofisticados perceberiam que eu possivelmente não tinha um draw, e aumentariam com sua grande mão para que eu me comprometesse com o pote. Eles também temeriam que eu pudesse pedir mesa se uma carta perigosa surgisse, caso em que eles não poderiam aumentar de forma alguma. Eles dariam call com um draw e esperariam acertar o jogo sem gastar muito.

(Note que essa análise em três níveis é altamente simplificada).

Eu precisava decidir que jogada esse oponente estava fazendo, e o que fazer a respeito. Pela ação dele até ali, ele não parecia ser um novato, mas sim o tipo de jogador que preferiria montar uma armadilha no turn se tivesse uma grande mão. Eu deveria voltar um reraise?

Decidi esperar pelo turn. Se surgisse uma carta de ouros, as chances de eu estar ganhando seriam poucas, pois o draw mais provável dele era um flush e ainda havia chance de eu estar errado e ele ter uma mão melhor que a minha. Além disso, se eu colocasse quatro apostas, não descobriria muito se ele aumentasse ou simplesmente pagasse.

O turn: Quando o 2 apareceu no turn, eu precisava decidir se deveria apostar ou pedir mesa. Antes, devia descobrir o que um raise significaria aqui. Mais uma vez, novatos aumentariam com uma grande mão e pagariam com um draw; contudo, a maioria dos jogadores medianos faria o mesmo. Eles perceberiam que sua carta grátis não tinha servido, e simplesmente dariam call e esperariam pelo river. No entanto, oponentes mais sofisticados poderiam perceber que eu estava em uma posição incerta, e aumentariam com seu draw para sinalizar uma mão poderosa e me fazer desistir, em vez de enfrentar outras duas big bets. Se ele aumentasse, seria preciso concluir se eu estava sendo enganado ou simplesmente derrotado.

Eu poderia pedir mesa e esperar que ele fosse o tipo agressivo que jamais permitiria uma carta grátis se eu pedisse mesa, e apostaria com qualquer draw, na esperança de que eu largasse a mão. Entretanto, a maioria dos jogadores suspeitaria que eu não desistisse, tendo colocado três bets no flop, e simplesmente veriam a carta grátis. Embora ele parecesse ser agressivo, eu não achava que ele fosse apostar com um draw, então eu precisava apostar e decidir o que fazer caso ele aumentasse. Como ele pareceu ser mediano, decidi que daria fold se ele aumentasse no turn.

De fato apostei e ele apenas pagou. Portanto, minha defesa contra seu raise pela carta grátis (se fosse realmente esse o sentido) estava funcionando.

O river: O 6 surgiu, carta que parecia bastante segura. Eu devia apostar ou pedir mesa? Eu já tinha fingido demais com minha mão, o que é um bom argumento para se pedir mesa. Outro é que, se minha análise estivesse correta, ele não tinha nada com que pagar. Se eu estivesse errado, ele estaria ganhando, mas poderia pedir mesa com uma mão como Q-J. Além disso, ele poderia blefar com um draw incompleto. Com isso em mente, pedi mesa, e ele fez o mesmo. Eu ganhei, e ele mostrou um flush draw que não bateu.

Conclusão: Esse tipo de mão pode ser jogada de diversas maneiras, e o modo como você joga depende de como seus oponentes reagem. O quanto antes você puder prever como eles irão jogar e em que nível irão pensar, melhor será seu desempenho.




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